domingo, 31 de julho de 2016

Sangue


Ao ler estas palavras muitas vezes deve ter pensado que não tenho coração.
Mas é por ter coração que as digo, é por ter coração que cuspo a bile, o fígado,
Por ter coração que me revolto, indigno. É por ter coração que me enciumo.
E esgarço até onde posso minhas peles, revolvo-as, atiro-as contra a parede, contra você. Para que sinta o pútrido cheiro que a mim extingue, e exala daqui.
E possa assim talvez, ou não, ou nunca, ou pela derradeira agonia, nutrir meu
Sangue em fervura, caudaloso, escaldante, e derramá-lo nestes pés de bolhas, marcas, vermes, doenças, promessas, calçado pelas asas do demônio.



Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Egon Schiele. 

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