segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A pergunta que não quer calar


Eu morro.
Mas a ironia fica.

O mundo é justo.



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Daumier.

Faca


Se eu estou afiado
Ninguém me agüenta

Se eu estou flexível
Ninguém me segura

Eu sou aquele
Que você sabe o nome

Eu sou a faca
De sete gumes

Sou a profecia
Das alturas

Poeta do eterno
Pastoso


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Daumier. 

Aprendiz


Todas as dores reais vêm de tragédias espirituais




Raphael Vidigal

Pintura: obra de William Turner.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sabedoria Popular de Vovó


Tudo que sobe
Finca

Nem tudo que aperta
Machuca

O que não sai pela boca
Sai por outro orifício,


Raphael Vidigal

Pintura: "Motivos do Rio de Janeiro", de Emeric Marcier.


Jorge de Lima


Uma risada ao longe quer dizer sempre alguma coisa
            de alegria...

Uma risada serena...

                        Ou uma risada cínica?

                              Uma risada fura o silêncio
                        sem se importar com os martírios...

Uma risada é sempre um alívio.

No meio de tantas e tantas e tantas despedidas...



Raphael Vidigal

Pintura: "Pierrot", de Jorge de Lima. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Em Terra de Cego


Poesia é a janela da alma

            & o poeta é cego em tiroteio

 onde quem tem olho é rei



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Daumier. 

Estátua


o amor como psicanálise
& a poesia como catarse

o amor como destino
a poesia como azar

o amor como alimento
& a poesia como indigestão

o amor como labirinto
a poesia como sinônimo


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Daumier.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Altar


Pra quem achou que eu nunca mais ia sofrer por amor
Aí estou eu de novo, ajoelhado nos altares da desgraça.
Pra quem achou que eu era um novo homem, regenerado
Aí estou eu, chorando feito menino, de barriga pra cima,
Como quem pirraça os criadores dos céus, como quem não
Aceita ser aquele para quem o sofrimento deve tornar
Mais sensível. Aí estou eu de novo, baixo astral, agressivo.
Aí estou. Pra quem achou que eu nunca mais fosse sofrer
Por amor. Aí estou eu. Aquele velho poeta vadio.
Revirando lixo, catando vidros, ajoelhado no altar do desespero.
Ajoelhado, como quem não reverencia, mas xinga, rei da
Discórdia, da balbúrdia, da hipocrisia. Rei da blasfêmia
Como um mendigo. Aí estou eu. Aos pedaços, insólito,
Aquele velho poeta vadio. Sofrendo. E o amor feito pó


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Goya. 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Mármore


Poema é apenas
Um conjunto de palavras
Que alguém organiza
Para dar sentido e expressão
À sua imagem.
Como uma escrivaninha.
Poesia é quando essa escrivaninha vira um cavalo-marinho!


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Chagall.

Pedra sabão


Pra quê gastar a palavra?
Pra quê lançar mão da anáfora?
Se o que precisa ser dito vive entre aspas

“                         ”


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Miró. 

Lembranças, recordações...


Aprender a coalhar o sol; a se ajeitar sobre as nuvens.
Tirar um coelho da cartola.
Amar o coelho.
Ser como o canto dos passarinhos.
Ter no coração todos os caminhos.
Lembrar com saudade daquele caminho.
E sobretudo rir muito, ser mais alegres.
É bom, sim, guardar o que foi bom.
A nostalgia é um presente para acreditar que a vida pode ser melhor do que a realidade.


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Paul Klee. 

Bufa


A vida é muito grave mas não é séria.
A vida já existia antes da comédia.
A vida já existia antes da Tragédia.
É vida é Hollywood, Shakespeare e a Grécia.
A vida ergue sua saia e espia a greta.
A vida é pó de aranha e mel de abelha.
A vida é ópera bufa, canto da sereia.
A vida é uma ilusão, como um espelho.
Quem olha pra vida sério ela faz careta
A vida é muito grave, mas não é séria.


Raphael Vidigal

Pintura: "Pierrot", de Pablo Picasso.