sexta-feira, 20 de março de 2009

Crimes Passionais:




Dizem no Brasil que a política rouba, a polícia tortura e o aluno mata aula. Que as leis não pegam e que o maço de cigarros mais vendido é o de Gérson.


Ainda assim o crime mais cometido no país é o que se comete por amor, como aconteceu comigo.



Me apaixonei pela professora, como um filme de Lolita às avessas.
Ela era uma mulher de estatura mediana, cabelos sempre ao vento e aquele olhar que engana.
Os óculos cor de face acentuavam suas curvas, seu enlace com o mundo lá fora.
Seu corpo Maquiavel de mulher má lembrava o romance “O Príncipe”.
Seus fins justificavam o meio, em que vivia.



Era um amor maravilhoso, maravilhado, perfeito, e como todo amor perfeito era Romeu e Julieta, queijo e goiabada, e era por fim Noel Rosa, profetizando o fim que Nostradamus não viu.
Era Shakespeare encarnado em Paulo Coelho.



E quando me dei conta dessa impossibilidade mais que Platônica (eu ainda não tinha idade para ler Platão, e por isso demorei a perceber) resolvi começar a ler coisas sobre aquele ser.
Logo em seguida segui o conselho de Neruda, fechei os livros e fui.



Não demorei muito a concluir que só havia uma maneira deu me declarar àquela força da natureza humana, aquela beleza sem nenhuma gana.



Tracei um plano para que pudéssemos nos encontrar a sós, sem nenhuma outra interferência cotidiana.
Descobri seu endereço, seus horários, compromissos, mandatários e abismos. Me apaixonava cada vez mais.
Chegou a data limite, eu havia alcançado o topo do meu amor por ela.



Encontramo-nos frente a frente, na porta de sua casa, Lolito e sua donzela.
Me convidei para entrar, ela chegou a estranhar, vi em sua olheira nervosa que chegou a pensar em alguma estratégia para se livrar de mim.



Acabei por vencê-la e entrei pela janela.
Ela já estava à espera, deitada na cama, aberta.
Dei-lhe um tiro certeiro e a matei.



Mas antes reservei-lhe um último momento de puro deleite e prazer, apanhei o campo de centeio e filosofei: “Todo homem mata aquilo que ama”.
Oscar Wilde dava pulos sem saber por que, no cemitério.



Eu matei, e mataria de novo.
Pois é, meu Dostoiévski, o crime é um castigo.
Jamais irei esquecer o nome dela, Digníssima Professora de Ética, Moral e Filosofia.



Naquele instante, eu havia crescido.
E virava mito, minto...

Raphael Vidigal