quinta-feira, 28 de julho de 2011

Bonita:


“O homem está sempre disposto a negar aquilo que não entende.” Luigi Pirandello

O tempo não existe mais; o tempo é invenção dos homens
Anjo de luz que me suspira
Anjo de luz que nos espia
Eu sei, bonita.

Talvez Deus queira, pregar peças
Seja realmente divertido-divino
Privando-nos de entendê-lo
Quantos sentimentos valem mais que a re-a-li-da-de.

Existem coisas noutro espaço
E pessoas são necessárias
Por isso a seu tempo
Elas são chamadas...

Pintura: “Azulejos azuis”, de Adriana Varejão.

Raphael Vidigal

terça-feira, 26 de julho de 2011

D’alma:


Por uma afobação
restrita espero
que aprecie
As benesses
do corpo e as dissidências
Da alma

“Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara.” Di Profundis, Oscar Wilde

Pintura: “Céu vermelho”, de Goeldi.

Raphael Vidigal

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Apuro:


“O mundo só poderá ser salvo, caso o possa ser, pelos insubmissos.” André Gide

O apuro estético pode fazer poesia
Mas não faz poeta
O que faz o poeta são apuros

E se alastram

Não é o rigor técnico
É o rigor estático do risco
Não calculado

Talha-se a linguagem
A poesia
não pode ser trabalhada
É um idílio retalhado

Por pro vocação

Pintura: Arlequim, de Di Cavalcanti.

Raphael Vidigal

terça-feira, 19 de julho de 2011

Lágrima:


“Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito. Este silêncio, acredito, são suas obras completas.” Paulo Leminski

O sorriso e o sonho
da índia sem chão
no mar
meia luz
Luz de velas
Japão
me confluem
confundem
conclui:

Toda a felicidade está

numa lágrima
de alegria dorida

yin-yang

Raphael Vidigal

Pintura: "Estudo em Mi Menor", de Antonio Peticov.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cria:


“Não sei se me assustava o mistério adensado ou para sempre desfeito.” Caio Fernando Abreu

Estou defendendo minha cria
Abaixando os ombros
Curvando as costas
Colocando-a cuidadosa sobre meu colo imaginária
A cria é: uma palavra.

Imagem: “Os pensamentos do coração”, obra do artista plástico Leonílson.

Raphael Vidigal

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Galo preto:


“E a carne a seduzir com seus frescos racimos” Rubén Darío

Preciso te contar essa história
Ouvida em meio a mentiras
Nada de verdade se escreve em rimas

O galo preto não cruza galinha preta
Tem preconceito
O galo preto bate nas galinhas pretas
Sem o menor respeito

O galo preto está servido à mesa
Enche o meu prato
Todos o comem
Índios, mulatos, franceses

Pintura: Auto vida, de Pancetti.

Raphael Vidigal

terça-feira, 5 de julho de 2011

Cumprimentar-se:


“Esqueça as explicações, uma arte que pode ser explicada nasce morta.” Miró

É engraçado como se oferece a face para ser beijada
Numa recusa curiosa da boca ao lado
e os prazeres e os dizeres e os teólogos
Nessa hora estão [-nesse momento cristão-] no mesmo barco

É engraçado como se oferece a faca para ser alijada
Numa recusa simbiótica da foice ao lado
e as mentiras e as meninas e as benesses da vida
Nessa hora são [-nesse momento pagão-] o mesmo fado

Raphael Vidigal

Pintura: A Rendição de Breda, de Velázquez.