domingo, 4 de junho de 2017

O tempo no espaço


O quarto dele está vazio.
E não voltará a ser preenchido.
Pende a roupa sobre o cabide.
Sustenta o algodão ainda limpo.
No chão não existe mistério, permanece
o azulejo incólume e frio.
Ainda que bolinhas de poeira voem até
as paredes, que elas toquem o armário aberto
nada indica que pela porta aberta ele entrará
no quarto vazio.
Pende a roupa sobre o cabide.
Sustenta o algodão ainda limpo.
O chão sem mistério é incólume e frio.
Bolinhas de poeira voam até as paredes a partir do azulejo
Incólume e frio e alcançam o armário aberto
aonde pende uma roupa sobre o cabide.
A porta vazia nada recebe, ninguém a encosta nem fecha.
O quarto dele está vazio.
E não voltará a ser preenchido.
Embora haja nele um tempo infinito.


Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Edward Hopper. 

Nenhum comentário: