quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Livro:


Apertou com força o livro contra o peito.
Ultimamente dormia tão nervoso...tinha tanto medo...
o livro o relaxava...ele esquecia o medo...toda aquela ansiedade que sufocava seus pulmões.
Tinha medo de ficar esquizofrênico e ouvir as vozes do seu livro na cabeça.
Aquele livro estava vivo...
Enquanto ele, estava morto.

Raphael Vidigal

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Chuveiro:


Tinha os pés lambidos e gostava de dormir em casa.
Quando leu Caio Fernando Abreu, foi amor à primeira lida.
Afora isso, não sabia nada.
Sabia que estava num desses momentos...
...num desses momentos...
era tão bom...
chorar baixinho no chuveiro sem ninguém olhando...
chorar baixinho no chuveiro Dolores Duran sem ninguém olhando...
cantar baixinho...sem ninguém...
...olhando...eu a esqueci por um tempo.

Nesses momentos que podemos ser nós mesmos.

Raphael Vidigal

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Banheiro:


Não consigo me concentrar em um só dia.
Lembro-me de ter sido à noite.
Enrolei-o em um papel higiênico e o joguei no lixo.
Antes disso, ainda foi possível sentir em meus dedos seu corpo à espera da morte.
Ele nem se mexeu.
Some e reaparece.
O que eu busco é aquela certeza de se saber melhor que eu.
Pacto de sangue.
Sempre clima.

Eu não quero voltar nunca mais naquele banheiro.

Raphael Vidigal

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Espelho:


Prometi voltar, mas não voltei.
Encostei-me à parede em canto a remoer minhas tragédias.
A desgraça tomava conta dos pulmões e eu não reagia.
Já não tinha forças.
Eu era aquela água morna do chuveiro que não esquenta e pinga confortante por mais que você precise ser queimado.
Uma água densa me molhava em sangue.
A morte me seduzia.
Pesada, doída.

Porque você sempre deixa um conflito antes de ir embora?

Raphael Vidigal

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Amor de morte entre duas vidas:


-eu ás vezes acho que já sofri demais cara.sabe essa coisa?as pessoas acham que eu tô sempre alegre, rindo...
e eu na maioria das vezes tô mal cara.mal com a vida, mal comigo...
eu ás vezes acho que o meu corpo se acostumou com a dor...
ás vezes acho que vou acabar me matando...

-...eu também.queria te pedir desculpas por esse meu silêncio alto que me ataca nas noites de domingo e nas manhãs de sábado,mas é que eu sinto uma verdade interior que me mata...

-tudo bem cara.eu gosto de estar só quando tenho esta opção.

-sabe quando um gosto azedo e com caroço te vem à boca?não é fácil quando a gente sabe que não tem escolha.





Raphael Vidigal

Pintura: Estrela Azul, de Joan Miró.