sábado, 21 de janeiro de 2012

A travessia:


“Mentem demais os cantores!” Homero

A travessia
Rumava longe
Nos corredores
Rumava quente
Nos abajures
Rumava
Sempre

A poesia
rumava perto
dos abutres
um rumo incerto
sem temperatura
pulava ao mar
partia ventres
e então chorava:

vim para dizer o nada
vim para te pedir todo
vim porque venho
e portando,
parto

Raphael Vidigal

Pintura: “Mercadores”, de Lasar Segall.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Perigo:


“Quando a última árvore for cortada,
Quando o último rio for poluído,
Quando o último peixe for pescado,
Aí sim eles verão que dinheiro não se come.” Tatanka Yatanka – Touro Sentado


Capoeira
Naná Vasconcelos
Na ribeira
Um toco
É martelo
Faz do joio
Recolhe-se o trigo
Branda o jongo
Ávidaperigo

Música: “Amazonas”, de Naná Vasconcelos.

Raphael Vidigal

Pintura: “Moisés”, de Frida Kahlo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um profundo abatimento:


“o coração está como que varrido” Tchekhov

Uma linda tarde de chuva...

Mas pouco a pouco se deitam
Como dois cavalos enrodilhados

Porque as flores são tão bonitas jogadas ao chão
E tão distantes jogadas ao vento?

Raphael Vidigal

Pintura: “Pietà”, de El Greco.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cordas:


“A gente, corpo quase corda.” Tom Zé

Se me assoprava a doce negligência das cordas...
Se me assoprava a doce negligência dos versos...

Pois o intocável é sempre mais bonito.

palavras são para serem sentidas tanto quanto sons, imagens, mãos

Entre o cuidado e a
liberdade há que se haver uma intersecção.

“E o primeiro verdadeiro silêncio começou a soprar.” Clarice Lispector

Raphael Vidigal

Pintura: “Still-Life: Le Jour”, de Georges Braque.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Céu:


“nuvens brancas
passam
em brancas nuvens” Paulo Leminski


Âncora quase inútil
Não vês que o céu,
mal ajambrado
Indispõem hirtas altitudes?


Raphael Vidigal

Pintura: “O Porto de Dieppe”, de Eugène Boudin.