terça-feira, 20 de julho de 2010

Carta:


“Guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.” Caio Fernando Abreu

Hoje me deu isso, essa depressãozinha.
Quando eu escuto gente preconceituosa e moralista, me dá essa vontade de desistir da vida.
Estou numa fase muito Caio Fernando Abreu, muito Ana Cristina, que são as únicas pessoas/coisas que não me deprimem.
As pessoas ainda têm medo de Deus.
Talvez eu precise ficar mais leve.
Quem sabe no fim da vida, a gente consegue

beijos do seu



Raphael Vidigal

Pintura: Menina com as Espigas (Menina com Flores), de Renoir.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sítio:


“Todos os dias que rompem com esplendor e terminam em tempestade.” Oscar Wilde

Hoje fiquei o dia inteiro em casa tentando escrever uma idéia que não saía da cabeça mas também não ia pro papel, pra lugar nenhum.
É tão ruim não ver as pessoas, não ver gente.
Me dá uma agonia, uma sensação de abandono.
Tristeza.
Me deu uma vontade louca de te ver.
Talvez pra lembrar que alguém gosta de mim.
Talvez pra lembrar que eu também posso ser feliz, ás vezes.
Não sei.
À toa.
Talvez isso seja a vida.
Essa inconformação indefinida,
sem rima.
Vai chegar um tempo em que o homem irá dizer com nostalgia: Antigamente o mundo era tão louco que as pessoas morriam.
Estou com medo de que você vá embora um dia, e eu enlouqueça.
"Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado.” Caio Fernando Abreu
Estou sofrendo por antecedência.
Acho que amo meus amigos.
Mas tenho tanto medo.
Vai chegar um dia que será só eu e Deus.
Você está longe, imersa em seus pensamentos, dormindo.
Tenho saudade dos lugares que me levam até as pessoas.
Tenho saudade daquele sítio que durou um dia mas para mim foi toda a vida.
Longe das coisas, perto das pessoas.
Uma redescoberta da vida.
Essa coisa incompleta que é a vida.
Uma volta ao passado sem que eu tivesse ido.
As pessoas são boas.
Mas a morte, a morte é a sabedoria.
Acho que sou uma grande farsa.
Não sei como acabar uma frase, não sei como acaba a vida.
Que amanhã chegue logo, e que depois de amanhã não exista.

Raphael Vidigal

Pintura: La Promenade Sur La Falaise, de Monet.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Conforto:


“O tempo não tem pudor” Gilberto Gil

Tudo que é bom enjôo.
Tudo que é ruim costume.

É tão bom dormir com chuva.
É tão ruim amar com medo.

O medo faz com que as ausências sejam muito presentes em minha vida.

Eu nunca pensei que sofreria tanto com minha morte.

Raphael Vidigal

Pintura: El abrazo amoroso del universo, de Frida Kahlo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Correntes:


“Nossa maior tragédia é não saber
o que fazer com a vida.” José Saramago


O nosso amor começou com Charles Chaplin.
Depois de um tempo apareceu Oscar Wilde, e logo em seguida, Caio Fernando Abreu.
E nós ali, tateando no escuro, tentando ver o que era ficção e o que era eu você nós dois.
Nunca tivemos certeza, mas acho que por algum momento chegamos a sentir nós dois naquele dia.
Não foi quando sua perna tocou a minha nem quando eu ri nervosamente tentando disfarçar o meu estado já alterado no fim da noite.
Talvez tenha sido na hora de ir embora.
De nos despedirmos.
E aquela mão ficou no céu entre nós dois tentando se prender a correntes invisíveis.
Correntes que depois nos aprisionariam e nos jogariam nisso que chamamos fim, acontecimento ou separação.
Ou mesma parte da vida. Prosseguimento da vida, eu diria.
A sua vida seguiu e eu nunca mais tive notícias.
Mas ainda guardo nesse céu invisível que há entre nós um pedaço de corrente que nos prendeu e infelizmente hoje só me resta liberdade.

Raphael Vidigal

Pintura: Lago com Nenúfares, de Monet.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Amor I:


"É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue.” José Saramago

Amor; platônico.
O que se realiza, ás vezes, é a paixão.

Minha criatividade é recriar o novo, criar o antigo.

O amor é uma redenção.
O amor é uma rendição.

E essas coisas não acontecem jamais.

Raphael Vidigal

Pintura: Três mulheres, de Pablo Picasso.