segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

peso

 


carrego meus mortos comigo

um na algibeira, a outra no ouvido

não renego deus, tampouco o admiro

...apenas duvido...

 

carrego meus mortos e sigo, convicto

na moleira vão os olhos cerrados dele

ao solstício sinto os lábios frios dela

...somente suspiro...

 

carrego meus ossos, carnes e peles

marcado de aço, fuligem e remorso

entre a sua origem e o meu destino

estou mais com os mortos do que com os vivos...

 

Raphael Vidigal


Pintura: obra de Monet.

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