terça-feira, 16 de julho de 2019

Rumoroso



Aonde ir ela própria lateja calma, saliente, distante. Como duas moças abandonadas num abraço para se proteger do frio. Esfinge de perfil silencioso, bege ao céu, cinza ao mar. O peito quer escapar. Como pombas da gaiola. Consigo o doce. No interior isolante e sereno as mãos a aviltar vasilhas de uma pia entupida e metálica prestes a derrapar em espiral. Por fora a tarde pasma. São escusas as explicações. É entroncado, braços largos. Corpo lento, anda com dificuldade. Contrasta a rangente argila do olhar aborígene. Ao final do sol poente, assusta. Desconhece, ao pisar em ovos da galinha de ouro. Capenga, a sombra da águia na asa da lua rasga o baldio terreno. O violão já não toca como quando colocado às costas. Nuvens de fumaça, cigarros picados. Matas abertas e fechadas. Lhanezas, fratricídios. Penas de pavão, engodos. Espécies aracnídeas, cobras, grotas, mas isto... É pura obsessão insensata. Mesmo o violão já não toca como quando colocado às costas. Atende às batidas.



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Hans Arp.

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