segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Vestígios



A vida que some...
Duas jarras de leite
sobre o engastado
jornal... o vento sibila
e já vazias elas tremem
feito um rouxinol... pinga
como sêmen a última gota
do leite pastoso que o tempo
coalhou... a vida que some,
emerge um par de ossos, e
surge um esqueleto, o rosto
pequenino foi de uma criança
levada pela lama há tempos
atrás. Pele, olhos e perninhas
foram devastadas. Talvez só
a alma tenha subido em paz.
Vazio. Vazio o tempo. Vazia a
lembrança. E a memória vã.
Um deserto do tempo.
Escasso. Morto.
Quando tudo desaparecer
ainda restará a palavra socorro.




Raphael Vidigal

Imagem: obra de Ai Weiwei.

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