terça-feira, 21 de agosto de 2018

Legado



Não quero admitir nada
Nem o banho de torneira
Tampouco a barriga d’água

Não quero admitir o choro
Em cântaros
O lenga-lenga da língua
Sem papas

Detesto a procissão em busca
Do justo
Ainda assim, exclamo:
 – Não tenho a admitir mais que pecados...!

Não quero admitir a traição
A autobiografia maculada
Prefiro estar calado no meu canto
Assim engano a deus e ao diabo...

Eximo-me da perícia em
Pó de morto
Anulo a sentença procrastinatória
Nada no meu corpo está ao alcance

Igual a própria alma –
sou o que
esconde



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Van Gogh.

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