O
que há de intocável em seu sorriso?
Preso
na moldura de aquário...
Talvez
o tempo aja em silêncio...
E
amarre feito alga os nossos sonhos...
O
que há de intocável em seu sorriso?
Cada
passo me desperta para teus ombros.
Parecem
desprezar o que num dia...
Foste
a água do deserto pra o meu corpo...
E
agora, o que há de intocável neste poema?
Por
certo a cor dos olhos, a voz serena.
O
arfar inevitável dos teus seios,
Quando
eu te encontrei em meio ao pranto...
                                   pois tudo o
que me resta é a tua lembrança...
E
nada me devolve pro teu colo,
e
nada restitui os primeiros anos,
e
nada será nunca como dantes,
o
mar que navegamos no oceano...
agora
encontra o lago menos brando,
agora
sente o sal na dor dos lábios,
agora
está sem o tal primeiro encanto...
agora
hoje e sempre a flor é manto: por onde se estendeu uma dor na entranha
            Te vejo ao subir daquela tarde...
E
desço o elevador num sol tão áspero...
            Cadê o carrossel da minha infância?
Que
fomos só crianças e então adultos,
Soubemos
desfazer nossos cadarços?
            Eu pulo feito doido em teu pescoço!
            Você me aceita própria para a dança,
            E assim desenrolamos um no outro
            E já não vejo a vastidão do mundo...
O
teu vestido é o meu único consolo,
Em
teu rochedo eu anuncio a fúria 
de
todos os povos: sou ermitão e um pouco de filósofo,
procuro
compreender tuas funduras,
e
quanto mais me perco em ti me encontro...
            Mas eis que a água tem um ciclo
próprio...
            Não viste nem avisaste sobre as
ondas,
            Impetuosas nos destinam a morte...
            Aqui em teu aquário vejo os olhos,
            Inspiro e te sinto em outro mundo: morro
dentro de ti pois sou teu fungo.
Raphael Vidigal
Pintura: obra de Modigliani.
 

 
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