sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Harpa


Ninguém abriu a porta do meu sonho.
As paredes brancas só refletiram de
Soslaio o sol. As marcas dos pingos
Das chuvas permaneceram e cravaram
Mofos sobre o interior do quarto amplo
Desinfetado e anestesiado com o pavor
Do branco que é a ausência médica
E cirúrgica.
Permanece só feito órfão
o sonho feito de vértebras
e músculos
que agora baba
e
mal sustenta
o peso da dentadura
na boca feito quarto branco

Ao fundo o som de uma harpa lembra a promessa dos anjos...
Ninguém abriu a porta do meu sonho. Só a chuva encosta o seu
busto na maçaneta ainda intacta à espera do roçar do outro, pois
o sol é apenas um reflexo na superfície branca e inanimada como



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Marc Chagall.

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