quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Cinema mudo


No cinema mudo não te vi
Falava
A voz do coração
Entre dois narizes
Cujas bocas beijavam-se
E os pés
Pelas mãos
Flutuavam
Pois no cinema mudo
Os nossos sonhos
Como Charlie Chaplin
Começavam ao contrário
E eram eternos no início
E principiantes no fim
Pois no cinema mudo
Sem falar me ouviu
E me entendeste tão bem
A língua que falam os anjos
Não se escreve ou detém
São dois narizes
Sempre tocando-se
Como esquimós
Do além


Raphael Vidigal

Pintura: "Paisagem Noturna", de Richard Pousette-Dart. 

Nenhum comentário: