quarta-feira, 2 de abril de 2014

Girassol


Na paleta meridional
De Van Gogh
Cabe o faminto
E o rocambole
Afinal era um holandês
Que bebeu
A luz o absinto e a prostituta
De um só gole.


Raphael Vidigal

Pintura: "Auto-retrato", de Van Gogh. 

Ensino médio


A poesia precisa ser simplificada.
Precisa de tônica, vodca,
E de palmada.

A poesia precisa ser compreendida.
Precisa de fônica, cinta,
E de pomada.

A poesia precisa servir para o mercado de trabalho.
Precisa de lentes de aumento, salário,
E de palmilha.

A poesia precisa entender o poeta
Esse sujeito abscesso, falido,
De palmas dadas
Caminham os dois
(não há acordo)
em desatino,
e desalento.


Raphael Vidigal

Pintura: "Retrato de um homem com a queixada de uma vaca em sua mão", de Frans Hals.

GARR ancho


Ancho
Um desperdício muito grande
Trocar um pedaço de carne,
Por uma garrafa.
Em todo caso
E em tudo
Anjo
Não me enojo
Frente ao garrancho
Ou ao hieróglifo.

A poesia se faz com patas
E muita sanha
E muita sarna
E alguns anúncios,
No telejornal, na esquina,
Na alcova
Ou na piscina
Flutuuua                
Solene, soberba, sestrosa:
A poesia.

Raphael Vidigal

Imagem: charge do cartunista Wolinski. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Regime


Um futurista pernilongo
Voa do passado
E prevê
Muito sangue
Para si
E para os outros.


Raphael Vidigal

Pintura: "Improvisação número 31", de Kandinsky. 

Quente


A chaleira de ideias
Ferve a cabeça
O bico a orelha
Expulsa a água o café
O chimarrão
A ideia
           aquece.


Raphael Vidigal

Pintura: obra do artista plástico José Roberto Aguilar.