sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Fim


Respeito a eternidade das palavras fáceis e gastas e fracas. Como eu.

Apesar de tudo o sentimento é intacto. As dores e os buracos.

A música tocava já não era a mesma pessoa. Antigamente costumava ouvi-la com um aperto no coração de provocar embaraços.

Duas crianças perdidas, ...... ao brincar com o coração, ....... não obtiveram o perdão.

O sol áspero a conter certa dose de brutalidade.
Obcecado.
Esse amor insuficiente para nos manter juntos é demasiado sério, pragmático, enfadonho, longe da fantasia e do sonho, do mundo ideal.
Irreversível.
Me rasga a pele, range os dentes, ensurdece os ouvidos.
Os dedos sangram.
Escrever sobre a vida com paixão.

FIM.

Raphael Vidigal  

Pintura: "Vasos, cesta e frutas", de Paul Cézanne. 

Separação



Guarde a rosa que te dei,
Os poemas que escrevi
E as canções que lhe cantei.

Hoje só me resta liberdade...

E este amor cá dentro peito...


Pulando aprisionado. 

Raphael Vidigal

Pintura: "O Grande Canal, em Veneza", de William Turner. 

De vítima a carrasco à vítima



Se um sábio me perguntasse:
- O que você quer da vida
Ser feliz ou saber a verdade?
(Da vida; quero ser feliz
Da vida; saber a verdade)
Eu, o tolo, responderia:

Todo mundo quer ser feliz
Ninguém deseja machucar a si nem ao outro
Mas ás vezes é inevitável.

Vítima de meus próprios atos.
Carrasco involuntário.


(Desamparado)

Raphael Vidigal

Pintura: "Círculo Mágico", de John William Waterhouse. 

Auto-ajuda



Podemos ser simples, bobos, felizes. Detenha-se no essencial. Olhe para o coração como uma menina curiosa espia o teu cachorro dormindo.

Raphael Vidigal

Pintura: "A carta de amor", de Fragonard.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Percurso de uma tartaruga




Sabe quando andamos de lado
E esbarramos, dispersos, num vaso?
E descobrimos dentro desse vaso uma miúda flor?
Assim encontramo-nos.
Pois relutava em olhar dentro de vasos, de corações.
Não mais remexeria em relva e galhos e corrente sanguínea e batimentos cardíacos.
Havia caído.
Jazia-me caco.
Velho.
Retorcido.
Moído.
Gasto.
Mas eis que o vaso regenerou-me em planta.
Pude sentir a seiva, retornar ao sol, ao fundo.
Do oceano plano ergui a cabeça para dentro do vaso:
Um pequenino girassol de miolo escuro e brilhantes e esvoaçantes e douradas pétalas amarelas.
Um girassol fulgurante!
Girassol, querida, periclitante.
Calhou uma nuvem justamente sobre nossos tetos e sonhos.
Uma nuvem pesada, negra, molhou, molhou, molhou o vaso, a planta, o girassol, os sonhos, encharcados, mal se aguentavam de tanto pavor e medo.
Tempestades, raios, naturalmente assentaram as características sobre nós.
Não ignoro a violência da chuva, nem a necessidade da água para se manterem as vidas.
Só não contava com tamanho ímpeto.
Resultado: tornei-me pedra.
Novamente ando qual uma tartaruga, escondendo-me em casco.
E que se ele trinca, dou dois passos atrás, endureço-me assustado, mantenho o ar de covarde.
Tenho medo da dor.
Conheço-lhe bem.
Não desejo encontrá-la.
Mesmo como uma tartaruga o mundo não me escapa.
E de dentro do casco, por impulso, reajo:
Vou à luta, encardido, nu, feio, fraco.
Venha vida me encare.
Não estou pronto, estou farto.
Dos mistérios, das quedas.
Peço a mim só coragem.
Esconder-me de mim, já passou, passará.
Eu conheço esta dor.
Quero outras, novinhas.


Raphael Vidigal

Pintura: “Dom Quixote”, de Daumier.