Desde que soube já esperava, de alguma
forma estranha, por essa notícia.
Não sei bem como me sinto. Às vezes
uma profunda tristeza, noutras estou Sereno. Vêm as lembranças, dias que
passaram colados a um plano desfocado, ao longe, que vai aos poucos se
aproximando por uma lente de aumento invisível, presa sob alguma haste,
iluminada por alguma nuvem, e pelas estrelas que não param de piscar. Como dois
olhos orientais.
Momentos recortados que agora
pregam-se em meu coração de memórias. Tantas coisas feitas, que pareciam
feitas, mas que sob a égide do tempo se desvanecem como o mais puro açúcar, que
é também evanescente. E só não é pó porque brilha. Tem o brilho do açúcar. Seu
gosto de saudade: é doce.
Não sei bem como me sinto. Há alguma
coisa esquisita dentro de mim
Que não consigo decifrar. Um
desencanto sereno, manso, sem revolta,
E que nem sei se é
dor.Raphael Vidigal
Pintura: Obra de Otto Scholderer.
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