segunda-feira, 17 de abril de 2017

Regresso


Sinto sua falta nos meus dias
Dias que são vespas como cinzas

...Falta-me a ninfa do teu beijo

Sinto sua falta nos meus beijos...
...Que entre tu e eu são só desejos
Caem como bêbado em meus versos,
Pois de pirilampo é que são feitos!

Voam as vespas cinzas no meu teto...



Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Edvard Munch. 

sábado, 15 de abril de 2017

meteoro


Só o silêncio circunda
um coração que gane

Somente a lágrima pune
um coração que grunhe

Na volta do meteoro há o semblante de pânico
o coração já não sabe o que fazer do estômago

algo que ronca vazio enquanto gane e grunhe


Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Jhê Delacroix.  

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Fases


No princípio era o verbo
No começo a ode
No meio a metáfora
E no final o sarcasmo


Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Caravaggio. 

templo vazio


já que não podes nada
aceita
assuma
mas não esqueça a batalha
mas não renegue a luta
já que não podes nada
reconhece
curva-te
mas não entrega a vitória
mas não sonegue os juros
já que não podes nada
contempla
vaga
faz da batalha o telhado
tens na derrota sua gruta

Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Goya. 

Reverberando


nunca mais
que peso
tem essa
palavra
que são
duas e
procura
o vazio o
nada nunca
mais...

Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Rembrandt. 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Partir-se


Que tuas últimas palavras não sejam duras, mas de conforto.
Que tuas últimas palavras não sejam para o alto, mas para o corpo.
Que tuas últimas palavras possam lavar a alma, e molhar o outro.

Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Renoir.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Enredo


Ainda vais sofrer muito
Chorar até não poder mais (e poderá)
Arrancar os cabelos
Xingar a mãe e o pai
Ainda vais sofrer pelos bares
Na pia
No vão da escada
Ainda vais encolher os ombros
Virar as costas
Jurar não voltar nunca mais (e voltará)
Sorver o amargo e o sal
Ainda vais
Mas é melhor não pensar
Não há palavra que valha – tem sofrimento a própria ânsia de paz

Raphael Vidigal

Imagem: Obra de Leda Catunda.