quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Quando Chora Um Cavaquinho


Era uma nota em Si
Quando logo eu nasci
Não chorei, nem sorri

Eu nem bem entendi
Depressa me vesti
O sol ia raiar

“Vem depressa, João!”
Gritava minha mãe empoleirada no portão
O pai lá fora, a algazarra toda, e os irmãos
Ainda guardo na memória o sabor daquele dia

Cavaquinho me traz
Alegria sem fim
E o choro contido
É um grito
Um gemido
Um rugido
Alarido
Brado
Berro
Um clamor
Chora o meu cavaquinho

Nada melhor
É remédio da alma
Benze meu coração
Nunca vi outro igual no mundo
Em medicina alguma

Além do mais
É barato, de graça
Assim se encontrará, pode ver
Basta procurar com atenção
O som dentro de si, a soar

Digo o que sei
O que guardo
Ajuda-me
Não é fácil não  
Mas protege quem canta, eu sei
Chora o meu cavaquinho, ouvi
Como anjos
De anunciação
Um recado
Lá do Senhor
Uma esfera
De irradiação
Infinita
Em mim


Raphael Vidigal

Imagem: foto de Ana Cristina, intérprete da canção. Crédito: Nathan Morais. 

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