domingo, 19 de junho de 2016

Toda unanimidade


Só sei que nada sei
Diz o filósofo grego
Só sei que ignoro tudo
Diz o filósofo turco
Só sei do que desconheço
Diz o poeta barbudo
Só sei do que não entendo
Diz a poetisa sem modos
Só sei que o arco é cinza
Só sei que o fogo é brando
Só sei que o gelo queima
Só sei que o amor envolve
Só sei que o silêncio é lã
Só sei que o barulho é grão
Só sei que houve essa manhã
Não sei se amanhã virá
Mas tu que soubeste tudo
Tu, sábio ignorante
Em coro desafinado
Coro do Deus Tupã
Só sei que o poeta é burro
E o filósofo puxa a carroça.
Só sei que nada sei
Só sei que ignoro tudo
Só sei do que desconheço
Só sei do que não entendo
Só sei que o amor é brando
Só sei que a lã envolve
Só sei que o arco queima
Só sei que o silêncio é grão
Só sei que o barulho é cinza
Só sei que houve esse amanhã
Não sei se a manhã virá
Diz o poeta sem modos
Diz a poetisa barbuda
Diz o filósofo grego
Diz o filósofo turco
E todos eternamente
Vão repetindo em conjunto...


Raphael Vidigal

Escultura: "O Pensador", de Rodin.

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