quarta-feira, 8 de junho de 2016

Lis


Leia a cor dessa palavra.
A Rebimboca de sua cauda no ar,
Espie como ela mexe os joelhos
Como os quadris assemelham-se a marshmallows.
Leia o movimento
Perscrute o cheiro
Não incorra no erro de analisá-la
Leia
Como quem se ajoelha
Como quem peca na porta da igreja
Leia como se lê um beijo
Como se suga um beijo
Friccione-a na parede,
Aperte-lhe as ancas, os peitos,
Retire da boca os gemidos.
            Leia e não pare de lê-la
Ao meio dia, às terças-feiras,
Leia até mesmo quando estiver dormindo;
Mas não como exercício, jamais feito jogo
Leia a cor
Leia a fuligem.
Aspire a dor,
Inale o sentido.
            Repara como ela oferece o busto
                        Como oferece o seio
            Pressione o decote dela contra o seu tórax
                        Comprima-a
            Não a torne alheia,
            Por favor, não a analise,
            Não a destitua de seu mistério,
Não cave a morte na vida.
            Presta atenção ao seu vestido,
            No som de quando estala as bochechas,
            Na saliva que escorre quando ela está cheia.
Leia
Não leia a palavra
Mas sua cor
Pegue-a pela borda,
Puxe-a pela orelha.
Evidente que ela morde, serpentina, rateia,
Coragem!
Agora mire-se no espelho,
Mas não olhe
Leia a cor
Inale o cheiro
Inspire o sentido
            Fraqueje
Deixe-se comprimir pela cor
Tens um borrado no espelho.


Raphael Vidigal

Imagem: Obra de Tunga. 

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