No meu aniversário
Eu viro um pavão.
No meu enterro
Eu viro um bezerro.
Chega o Dia dos Namorados
Estou qual um leão.
No dia dos mortos
Me enterro qual uma aranha-camelo.
Quando é Dia de Reis
Sou flor de lótus.
No dia do pagamento
Viro dente de leão.
Para todo feriado
Um animal.
Para qualquer véspera
Planta, pedra ou vegetal.
Natal, por exemplo
Me enrolo como um marsupial.
Na Páscoa, por outro lado
Tenho fome de coelho.
Em outras datas menos lembradas,
Mas igualmente festivas,
Dia de Jorge, Corpo de Cristo,
Sou o zumbido de uma abelha
E o olhar atento do esquilo.
Quando já é terça-feira,
Dia comum, sem estilo,
Ainda me sinto parente do morcego.
E é quando me deito
Naquele domingo
Que sinto o langor e a beleza
De um autêntico bicho-preguiça.
Fim de festa, que é todo dia
Me bate a tristeza do jegue
A morna mansidão da estirpe
Dos potros, cavalos e éguas.
Porém quando raia outra manhã
De novo, me reanimo
Começo a recontar os ciclos
Em breve tornarei pavão.
Raphael Vidigal
Imagem: Obra de Gauguin.
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