sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Vento (projetos eróticos)



O vento sobre o agreste,
O vento nos bambuzais,
O vento na casa rota,
Os ventos descomunais.

O vento que é emboscada,
O vento que fere a moça,
O vento que ganha as roupas,
O vento que, sobre o halo,
despido, a entorpece.

O vento irreverente,
O vento que é indomável,
O vento, jeito de macho,
O vento de Kilawera.

O vento lambe as cortinas,
O vento lambe as sementes,
O vento lambe a orelha,
O vento, manso, se ergue.
O vento que é ventania,

e, nua, se entrega aos dedos,
o vento nunca despreza,
o corpo, apesar que segue.
O vento puxa as cobertas,

deixa a ver o gozo e a lira,
o vento, obstinado, toma os pés,
a cabeça e os seios.
O vento nas pradarias.
O vento nas prateleiras.

O vento de Péricles;
O vento das putas e das orgias.
O vento quer pelo queixo,
O vento quer pelo umbigo,

O vento invade os buracos,
Os silêncios e os vazios.
O vento arranca os pedaços,
Transforma o que é casto em cio.
O vento e sua rajada,

Supera o homem
Supera a mulher
Supera a cria
Supera os bichos

Os minerais e as cicatrizes.
Supera as marcas.
O vento tem tempo de gozo,
Tempo de gozo tântrico
Tempo de martírio.

Tempo do prazer na dor
E do homem no menino.
O tempo tem cheiro de uva,
A escorrer feito vinho.

O vento está na colheita,
Na mulher madura e prenha,
O vento está nessa xepa,
No suor de todo dia.
O vento no albergue,

O vento na ventania,
O vento no duro íntimo,
O vento dentro da língua,
O vento que se insinua,

Entre pernas e varizes,
O vento na zona erógena,
O vento, busto de aço,
O vento, braços de vidro,
O vento, língua de fogo,

O vento, mãos alcalinas,
O vento, olhos de esponja,
O vento, concha molhada,
O vento, falo intangível.

Raphael Vidigal

Imagem: foto da atriz Leila Diniz. 

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