terça-feira, 27 de outubro de 2015

Aquilo que não mais existe



Foi um dia vida.
Mas hoje é a morte.
A menina que pulava bananeiras.
O menino que saltava bambuzais.
O sexo da senhora de Creta.
O mar de Creta.
A cidade de Creta.
O príncipe negro.
A princesa negra.
A velha senhora de Creta.
Tudo, o que um dia foi sonho.
Tudo, o que um dia foi inocência.
Hoje é consciência.
O que um dia foi morte.
Hoje é vida.
Aquilo que não existe mais.
Os músculos, as fibras, o pâncreas, o fígado.
O coração.
O intestino.
Toda a presença.
Um enorme vazio.
Uma palavra cheia.
Uma palavra que não representa.
Apenas sugere.

Aquilo que não existe mais.

Raphael Vidigal

Pintura: "Branco sobre branco", de Malevich. 

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