terça-feira, 1 de agosto de 2017

Luto


Que posso eu agora nessa vida
Senão dizer que a sua morte
Não impede a pantera de devassar a escuridão
com o seu brilho assassino
contra os próprios filhos
Nem o leão
de promover inadvertidamente o mesmo massacre
Todos os dias
Que posso eu agora senão dizer que a sua morte
molha meus interstícios
E na colheita do luto
Suplanta-se a vida
Com uma única, porém resistente
guimba
onde me apago em tuas cinzas


Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Lygia Clark. 

Nenhum comentário: