terça-feira, 1 de agosto de 2017

Declaração


O domingo está pedindo algum veneno
Pra que o dia não se extinga antes dele
Sua língua está áspera igual a um pelo
E as varizes de suas pernas enovelam
Assim, crespo; assim famélico; martela
Bate a própria cabeça contra a parede
Como o branco de sua pele exacerba
O que nele falta e é tudo transparência
Já os braços se separam até dos dedos
Toda a nuca está distante do pescoço
A cabeça não tem olhos e nem orelhas
Suas unhas engoliram o próprio sexo
Do domingo que só clama por veneno
Ante o dia que se insurge contra ele
Logo a noite anuncia a contrapelo
Os seus ossos estão à mostra e as
Verdes veias. Se enxerga até de perto
O fígado inteiro. De um domingo que está morto – sem veneno



Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Tomie Ohtake. 

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