O
domingo está pedindo algum veneno
Pra que
o dia não se extinga antes dele
Sua
língua está áspera igual a um pelo
E as
varizes de suas pernas enovelam
Assim,
crespo; assim famélico; martela
Bate a
própria cabeça contra a parede
Como o
branco de sua pele exacerba
O que nele
falta e é tudo transparência
Já os
braços se separam até dos dedos
Toda a
nuca está distante do pescoço
A
cabeça não tem olhos e nem orelhas
Suas
unhas engoliram o próprio sexo
Do
domingo que só clama por veneno
Ante o
dia que se insurge contra ele
Logo a
noite anuncia a contrapelo
Os seus
ossos estão à mostra e as
Verdes
veias. Se enxerga até de perto
O
fígado inteiro. De um domingo que está morto – sem veneno
Raphael Vidigal
Pintura: Obra de Tomie Ohtake.
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