sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Super Carolzita:
“Vejo-te flutuar pelo salão principal, deslumbrante e bela
Ignorando as luzes ofuscantes, vejo apenas seus olhos brilhando,
no escuro opaco, reluzente luas prateadas em noites de euforia
Seu sorriso derretia satélites e corações gelados” Caio Fernando Abreu
O mundo anda o mesmo sem você,
Carol
A vida mudou completamente
Ficou sem o brilho furtivo que irradiava seu sorriso
Irônico, meigo, delicioso
Alguns dias parece parar tudo
Dá vontade de não fazer nada, apenas ficar admirando estrelas (sei que você está entre elas)
Outras vezes, fecho os olhos e te vejo em risadas nunca vistas antes
E entendo que é você me abraçando de sua constelação, dizendo que está tudo bem
Então eu sei
Há pessoas que querem mudar o mundo
Outras modificam a vida; encantam
Viiiiiiidi
Beijos para o tempo que não passa segundo o homem, onde você vive sua aura interminável!
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Desde que você se foi ou a canção da tragédia:
“Desta caverna sombria a qual observo tudo contra a luz” Caio Fernando Abreu
Desde que você se foi as tardes ficaram mais vazias, os olhos têm menos pupila, e eu “não reviro cores, não explodo a luz”.
Desde que você se foi essa certeza do inevitável me atingiu forte, e eu não tenho mais vontade de comer nem de me deitar.
Permaneço imóvel na mesma posição que você me deixou, no mesmo lugar, com o mesmo brilho salgado preso na saliva.
Desde que você se foi respeite o meu silêncio
A
MOR-
TE
Dói mais em mim do que em você, ela disse.
Não acredite
Não posso interromper a canção da tragédia
Raphael Vidigal
Pintura: A Persistência da Memória, de Salvador Dalí.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Amor:
“Talvez eu pudesse olhar no seus olhos como eu tô fazendo agora e dissesse que o mundo é tão óbvio que se a morte me tocasse nesse momento seria ainda assim previsível.” cena de “Crime Delicado” na voz de Marco Ricca
A sinceridade não basta.
As pessoas querem ter armas, mas não podem fumar maconha.
A arma é mais violenta que a maconha.
E o amor mais violento que a arma.
(A arma pode ser defesa.
A maconha pode ser defesa.
Mas a arma é mais perigosa.
A arma do policial.
A arma do traficante.
Fere muito mais que a maconha.)
O amor também fere.
E o amor também é defesa.
Eu desperdiço meu amor por aí.
Um amor denso e ás vezes pesado demais para ser carregado.
Um amor livre, de padrasto.
Você foi, só mais um deles.
A necessidade é maior que o amor.
A carência é maior que a necessidade, mais perigosa.
O amor passa.
A vida é feita de incongruências.
Eu sou fatalista.
“Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza.” Caio Fernando Abreu
A inteligência machuca mais que a verdade.
Eu fiz as escolhas erradas nos momentos certos.
“minha inquietude de agora me põe mais à vontade diante do que já fiz e não tenho vergonha de nenhuma palavra, de nenhuma nota.” Caetano Veloso
Pintura: Auto-retrato, de Pablo Picasso.
Raphael Vidigal
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Bilhete:
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Sono de um diabo atormentado:
“Não é só a cicatriz que identifica o ser amado” Cazuza
Aquele rosto doce dizendo-lhe palavras duras revelavam sua essência vulgar.
E ele se percebia perguntando-se: como pode alguém ser tão estúpido e frágil ao mesmo tempo?
O pobre diabo só pensava na anja que machucara.
Afundado em sono ouvia a própria voz lhe dizer:
Talvez eu faça isso com medo, de mostrar que sou mais sensível do que aparenta.
Raphael Vidigal
Pintura: Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo, de Salvador Dalí.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Poesia:
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Sorte de Deus:
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Carol:
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Sonhei que você viajava:
“Ainda não consegui fazer filosofia, versos, ou colar retratos aqui.” Ana Cristina Cesar
Sonhei que você viajava pros Estados Unidos e me contava as peripécias que por lá fez.
Entre elas estava a de que me traía.
Mas você contava sem maldade, feliz, inocente, rindo.
E eu atônito, rasgado.
Com os olhos baixos.
Você me perguntava se eu estava bravo.
Eu calado.
E descobri que sonhos podem ser cruéis.
Raphael Vidigal
Pintura: Les valeurs personnelles, de René Magritte.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Como é bom fazer planos:
pequeno di (cion) ário amoroso
sobre todas as coisas e o nosso mundo:
Como é bom fazer planos sem saber que a vida irá desmoroná-los.
Como é bom fazer planos antes de saber que a vida, irá desmoroná-los.
Tenho saudade dos dias quando ainda era ontem,
e você se despedia com um beijo.
Perguntei para ela se era sábado...
Ela disse
O amor é inviável em tempos como os de agora.
“Tempos do cólera”.
Raphael Vidigal
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Hoje eu acordei:
“Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros.” Caio Fernando Abreu
Hoje eu acordei meio baixo astral.
Meio puto com a vida.
O que um sonho é capaz de fazer com as pessoas.
O que um sonho acaba faz com as pessoas prontas.
Não quero mais essa vida
de me sentir rasgado.
Raphael Vidigal
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Moral:
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Amor Delicado:
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Flash:
“Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!” Mario Quintana
Ás vezes eu penso em assassinatos, suicídios, estupros.
Crimes que passariam impunes a uma mente mais desatenta.
Eu nunca sei se o que eu tenho é fome ou é satisfação.
Enquanto isso a gente vai vivendo essa vida vagabunda medíocre que tem sempre os mesmos objetivos.
A vida é uma questão de enquadramento.
[ ]
Flash.
Raphael Vidigal
Pintura: Mujer con flor, de Pablo Picasso.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
No fundo do peito:
“Podem me prender, podem me bater
Podem até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de OPINIÃO”
Zé Kéti
Estou com vontade de ler bons livros, ver bons filmes, ouvir boa música.
Tudo coisa muito simples.
Fiquei muito tempo escondido mas agora decidi mostrar.
Vou fazer isso até que me vejam por inteiro.
Pelo menos aqueles que me interessa que vejam por inteiro.
A gente ia amadurecendo (ou apodrecendo) ao vivo.
No fundo do peito essa urgência consumida.
Raphael Vidigal
Imagem: Marilyn Monroe.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Um texto nunca está feito:
“Você é mais um conjunto de reações do que propriamente um ser humano.” Caio Fernando Abreu
Um texto nunca está feito. Fito. Findo.
Tem coisas que eu escrevo que eu não controlo.
É preciso entender isso.
É bom morrer deixando a sensação de que poderíamos ter feito mais.
Para que a morte seja começo e não fim.
Pra que a morte não seja descanso, mas continuidade.
Eu não acho que a felicidade seja uma coisa boa.
Essa coisa conformada que é a felicidade.
Esse estado indefinido.
Raphael Vidigal
Imagem: James Dean.
domingo, 22 de agosto de 2010
Num deserto:
“O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.” Adélia Prado
Sentei ao seu lado mais por acaso que por alguma intenção direta.
Eu não sabia quem você era nem fazia idéia de em quem iria se transformar.
Eu te olhei como olhava sempre qualquer pessoa ao meu lado.
Só que dessa vez senti uma emoção diferente um brilho se partiu e um coração se juntou.
Senti uma emoção diferente que me deixou meio brilho partido de olhos puxados coração colado.
Coração que cola me chama amor.
Raphael Vidigal
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Segredos:
Escafandristas é uma palavra bonita.
Parece jóia quando se está magoado.
Ás vezes eu tenho a impressão de que está tudo se repetindo.
Que a gente passa mais tempo indo do que chegando.
Coração não tem calendário.
Mas quer saber duma coisa?
Eu sou misterioso mesmo, mas com você consegui revelar (até para mim) meu verdadeiro eu, (ou seja lá o que for isso) meus segredos.
“É melhor se sofrer junto que viver feliz sozinho.” Vinicius de Moraes
Raphael Vidigal
Pintura: Flores no Vaso de Cristal, de Manet.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Deja:
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Sentimento:
"Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.” Caio Fernando Abreu
Ás vezes a gente tenta se encaixar mas não é aceito.
E a gente se encaixou perfeitamente.
As pessoas especiais são frágeis, mas têm medo de não serem aceitas.
E me voltam as súplicas atendidas de Truman Capote, interminadas
como algumas almas.
Quanta coisa já se fez sem sentimento nenhum
Que agora é hora de ser só sentimento.
Raphael Vidigal
Pintura: Louise che allatta suo figlio, de Mary Cassatt.
sábado, 31 de julho de 2010
Brisa:
"Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Alessandra.”
Quando tudo aconteceu nosso mundo sentiu no peito.
E eu digo nosso porque há muito suas estrelas que formam as três marias pontilham meu céu laranja.
Nossas estrelas deitados no chão esparramando vodka com gatorade contando com alegria os defeitos.
Nosso céu laranja deitados na poltrona aconchegante de um lugar só nosso com fundo de cachoeira.
Nossos corpos deitados no sofá cama enquanto nossos sonhos se entrelaçavam, a água molhava e você cantava aquele poema pra mim.
Aquele poema da brisa que mesmo errado me pareceu o mais bonito.
Quando tudo aconteceu nosso mundo sentiu no peito.
Pensou-se em assassinatos, suicídio e casamento.
Pensou-se em tudo isso, mas principalmente em casamento casa família bebê amor.
Quando tudo aconteceu machucou.
Mas em nenhum instante nossas estrelas murcharam, nosso céu perdeu a cor, nossos olhos perderam o brilho de oásis encontrado em almas desertas.
Água límpida que só se encontra lá.
Nosso mundo.
Porque o nosso mundo é frágil e corajoso.
E se entrega e sangra e chora mesmo que seja muito difícil.
Entre nós acaba sendo o mais fácil.
E deixa-nos mais leves, mais limpos e prontos para seguir adiante com nosso amor até alcançar as estrelas que pontilham o céu laranja. O poema da brisa. O filme na pousada. A água do chuveiro.
Porque o nosso amor somos nós.
Risos, dores, beijos e planos.
E assim nos damos diariamente.
Raphael Vidigal
Foto: Charlie Chaplin, onde tudo começou.
“Mas teu prazer entende o meu.” Clarice Lispector
sábado, 24 de julho de 2010
Retrato:
"E se o telefone tocar diga que eu morri que estou mortinho da silva, estirado no chão da sala com o coração na mão. Diga que retirei meu coração com a mão – ele estava doendo demais.” Caio Fernando Abreu
Talvez tenha acreditado tanto na força das palavras que me desiludi com o poder dos atos.
A imagem é um retrato preso na memória.
São 7 horas da manhã e os ossos tremem mais do que os ponteiros do relógio: eles parecem imóveis, aflitos como eu por não poder fazer algo porque o tempo já passou.
Não é para tudo isso.
Mas eu sou assim mesmo: quando me afundo é pra valer e sempre respiro rápido.
Minutos suficientes para de vez em quando dizer que a vida é bonita com uma confiança ingênua.
Esmagado pela objetividade das coisas que nos deixa no mesmo lugar ou nos leva para depois dele.
Tarde cinza no meu coração.
Eu tentei, eu juro que eu tentei não te olhar tanto.
Mas no final de tudo isso uma força oculta me toca e me ergue: estou cada vez mais forte, cada vez mais desacreditado da vida.
Talvez eu não mereça ser feliz, e tenha nascido para o sofrimento que tanto admiro.
Então eu sigo em frente
E piso sangrando sobre os cacos de ontem à noite.
Raphael Vidigal
Pintura: Mulher com um gato, de Renoir.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Carta:
“Guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.” Caio Fernando Abreu
Hoje me deu isso, essa depressãozinha.
Quando eu escuto gente preconceituosa e moralista, me dá essa vontade de desistir da vida.
Estou numa fase muito Caio Fernando Abreu, muito Ana Cristina, que são as únicas pessoas/coisas que não me deprimem.
As pessoas ainda têm medo de Deus.
Talvez eu precise ficar mais leve.
Quem sabe no fim da vida, a gente consegue
beijos do seu
Raphael Vidigal
Pintura: Menina com as Espigas (Menina com Flores), de Renoir.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Sítio:
“Todos os dias que rompem com esplendor e terminam em tempestade.” Oscar Wilde
Hoje fiquei o dia inteiro em casa tentando escrever uma idéia que não saía da cabeça mas também não ia pro papel, pra lugar nenhum.
É tão ruim não ver as pessoas, não ver gente.
Me dá uma agonia, uma sensação de abandono.
Tristeza.
Me deu uma vontade louca de te ver.
Talvez pra lembrar que alguém gosta de mim.
Talvez pra lembrar que eu também posso ser feliz, ás vezes.
Não sei.
À toa.
Talvez isso seja a vida.
Essa inconformação indefinida,
sem rima.
Vai chegar um tempo em que o homem irá dizer com nostalgia: Antigamente o mundo era tão louco que as pessoas morriam.
Estou com medo de que você vá embora um dia, e eu enlouqueça.
"Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado.” Caio Fernando Abreu
Estou sofrendo por antecedência.
Acho que amo meus amigos.
Mas tenho tanto medo.
Vai chegar um dia que será só eu e Deus.
Você está longe, imersa em seus pensamentos, dormindo.
Tenho saudade dos lugares que me levam até as pessoas.
Tenho saudade daquele sítio que durou um dia mas para mim foi toda a vida.
Longe das coisas, perto das pessoas.
Uma redescoberta da vida.
Essa coisa incompleta que é a vida.
Uma volta ao passado sem que eu tivesse ido.
As pessoas são boas.
Mas a morte, a morte é a sabedoria.
Acho que sou uma grande farsa.
Não sei como acabar uma frase, não sei como acaba a vida.
Que amanhã chegue logo, e que depois de amanhã não exista.
Raphael Vidigal
Pintura: La Promenade Sur La Falaise, de Monet.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Conforto:
“O tempo não tem pudor” Gilberto Gil
Tudo que é bom enjôo.
Tudo que é ruim costume.
É tão bom dormir com chuva.
É tão ruim amar com medo.
O medo faz com que as ausências sejam muito presentes em minha vida.
Eu nunca pensei que sofreria tanto com minha morte.
Raphael Vidigal
Pintura: El abrazo amoroso del universo, de Frida Kahlo.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Correntes:
“Nossa maior tragédia é não saber
o que fazer com a vida.” José Saramago
O nosso amor começou com Charles Chaplin.
Depois de um tempo apareceu Oscar Wilde, e logo em seguida, Caio Fernando Abreu.
E nós ali, tateando no escuro, tentando ver o que era ficção e o que era eu você nós dois.
Nunca tivemos certeza, mas acho que por algum momento chegamos a sentir nós dois naquele dia.
Não foi quando sua perna tocou a minha nem quando eu ri nervosamente tentando disfarçar o meu estado já alterado no fim da noite.
Talvez tenha sido na hora de ir embora.
De nos despedirmos.
E aquela mão ficou no céu entre nós dois tentando se prender a correntes invisíveis.
Correntes que depois nos aprisionariam e nos jogariam nisso que chamamos fim, acontecimento ou separação.
Ou mesma parte da vida. Prosseguimento da vida, eu diria.
A sua vida seguiu e eu nunca mais tive notícias.
Mas ainda guardo nesse céu invisível que há entre nós um pedaço de corrente que nos prendeu e infelizmente hoje só me resta liberdade.
Raphael Vidigal
Pintura: Lago com Nenúfares, de Monet.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Amor I:
"É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue.” José Saramago
Amor; platônico.
O que se realiza, ás vezes, é a paixão.
Minha criatividade é recriar o novo, criar o antigo.
O amor é uma redenção.
O amor é uma rendição.
E essas coisas não acontecem jamais.
Raphael Vidigal
Pintura: Três mulheres, de Pablo Picasso.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Mesmo que morta:
“Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.” Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina
O que foi que deixou em mim que não me deixa seguir em frente, perseguir a vida, ser feliz?
Em um o outro momento sempre me bate essa tristeza, essa saudade, essa espécie de morte em vida.
Sempre em mim. Mesmo que morta, distante, sem notícias.
A me perseguir pelo resto da vida, como um fantasma.
Talvez a chuva contribua para isso.
Eu nem sei onde você está, quem você é.
Foi ou será?
Ás vezes eu acho que prefiro estar triste, que eu a perigo, a persigo.
Todo esse vazio em volta entra no meu ouvido, me diz coisas horríveis.
A impressão de que todas as pessoas estão distantes, esquecidas, frias.
“Preciso tanto...!” me grita Ângela Ro Ro no ouvido. Preciso tanto de você, dos meus amigos, de querer estar comigo.
Tudo isso que a gente pensou que era eterno, não existiu.
E a gente pode morrer a qualquer momento.
Não tem a ver com estar sozinho, tem a ver com estar com medo, desprotegido.
E assim nasce aquela vontade de chorar como um bebê, encolhido em seus braços que nunca mais me tocaram, nunca mais tocarão.
Toda estrela que cai é porque um dia esteve no céu.
Raphael Vidigal
Pintura: Enchantment Vesperal, de Marc Chagall.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Trânsito:
“Assim que se afasta a pessoa se esquece de tudo, só resta o eco vago de um deslumbre atordoante.” Truman Capote
Não entendi quando você olhou pra mim daquele jeito, aquela forma.
Pensei em não desviar o olhar, em tentar escutar o que os olhos e os sinais que fazia com a mão me diziam.
Pensei que talvez nos conhecêssemos de algum lugar, alguma data esquecida dentro de uma caixa de sapatos sem brim.
Que nunca estiveram lá, à bem da verdade.
Pensei também nessa frase: quem quer o bem da verdade?
Enquanto isso você continuava olhando, e rindo.
Rindo, e eu nervoso, branco, com medo sem saber o que vinha medo de onde era medo quem é o medo.
Mas você deixou que eu passasse a seu lado.
E eu não tive coragem, eu fui embora sem sequer dar chance a você de perceber o ar que passava por meus cabelos e arfava da minha boca, suada, fria.
Talvez você soubesse, talvez você ainda saiba.
Raphael Vidigal
Foto: Ana Cristina Cesar, Poeta Brasileira.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
O céu está laranja:
“O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta.” Adélia Prado
O céu está laranja.
Lembrei de você à beira do asfalto, do precipício, de um ataque de nervos.
E descobri que eu não sei mais escrever se preciso, precipício.
Só viver
Só você
Risco /
Enquanto isso a gente vai vivendo essa vida vagabunda medíocre que tem sempre os mesmos objetivos, as mesmas conquistas e fracassos diferentes.
Melindro, esmero, esmerilhar.
Tudo já parece fazer parte do passado.
Eu quero sempre fazer parte dum passado.
Mais do que nunca, cada vez mais que sempre.
Raphael Vidigal
Foto: Dina Sfat, Atriz Brasileira.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Vende-se:
“(...) a fantasia é a realidade e a realidade nada significa.” Oscar Wilde
Eu era uma mulher de uns trinta anos com medo da morte.
Solteira, sem filhos, sem nenhum pecado.
Era também uma daquelas que preferia uma cabeça ao invés dum cérebro.
Além disso, gostava de inventar paixões para mim.
Foi quando vi um anúncio numa loja de sapatos em liquidação e percebi:
O AMOR É UMA QUESTÃO DE HABILIDADE.
Raphael Vidigal
Pintura: Marilyn Monroe, de Andy Warhol.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Amor II:
segunda-feira, 31 de maio de 2010
À florismo:
"Perdoa sempre a teu inimigo.
Não há nada que lhe enfureça mais.” Oscar Wilde
À força é o primeiro recurso de um país violento.
À força é o último recurso de um país em paz.
Onde há força, falta inteligência.
O amor dói bem mais que o sexo.
Eu me solidarizo com a fraqueza.
Raphael Vidigal
Pintura: El Gallo, de Joan Miró.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Quinta:
“Para eles [a poesia não foi destruída pela realidade.]” Oscar Wilde
segundo rabisco de meu livro.
Era uma quinta-feira com gosto de sexta e cheiro de domingo.
Cheiro de chuva quente.
Você me disse aquilo e eu não resisti.
É incrível a forma como as formas acabam sempre fugindo ao meu controle.
E eu não consigo nunca ficar muito tempo na defensiva.
E acabo sempre me (desentregando desse jeito estúpido, infantil e imaturo.
E por isso mesmo, doloroso.
Você me disse aquilo e eu não resisti.
E começou a eclodir da minha mente tudo que eu queria falar mas não podia tudo que eu devia sentir mas não podia tudo que eu queria ser mas não deveria.
Porque eu deveria sempre lembrar que quando essas coisas começam a aparecer e a gente começa a revelá-las é porque está perto do fim.
Mas você me disse aquilo e eu não resisti.
E comecei a falar tudo que eu queria falar mas não podia tudo que eu queria sentir mas não sentiria tudo que eu queria que você fosse pra mim mas nunca seria.
E no momento seguinte você iria embora me deixando fumar aquele cigarro vagabundo à espera do próximo domingo, lembrando aquele dia.
Era uma quinta-feira com gosto de sexta e cheiro de domingo.
Seu cheiro molhado, emprestado, de chuva quente.
Raphael Vidigal
Pintura: Noite Estrelada sobre o Ródano, de Van Gogh.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Mendigo:
“Confesso! Às vezes tenho vontade de sair por aí destruindo corações, pisando em sentimentos alheios ou sei lá, alguma coisa que me faça realmente merecer esse meu sofrimento no amor.” Caio Fernando Abreu
Passavam férias no Rio quatro rapazes na flor da idade, todos em fôrma, alguns covardes.
Um deles queria ser policial e discursava sobre o papel da justiça.
As formas de justiça.
O Cristo abriu-lhe os braços complacente.
Varreram em direção ao carro da polícia um mendigo.
Colocaram-lhe no porta-malas.
Já não havia mais perdão ou fuga.
Um deles chorava revoltado.
O outro estava rindo.
Foram amigos até o fim do dia.
Mendigos.
Raphael Vidigal
Pintura: O Velho Guitarrista (fase azul), de Pablo Picasso.
terça-feira, 18 de maio de 2010
SOM: Eu sou rebelde por natureza
“Nenhum silêncio existe
que não esteja grávido de sons" John Cage
Nas instituições de ensino não me soou.
Nas instituições de moral e cível não me soou.
Nas instituições patrióticas não me soou.
Nas instituições de Deus não me soou.
Nas instituições da família não me soou.
Nas instituições sociais não me soou.
Nem sozinho me soou.
S ó l [musical]
quando estou
como sou
com amigos
(e de bom humor) me SOUL.
P.S.: O Sol de Van Gogh também não é amarelo.
Raphael Vidigal
Pintura: Claveles, de Van Gogh.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Mãe:
segunda-feira, 3 de maio de 2010
carne trêmula sobre minha má educação à beira de um ataque de nervos partidos:
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Frasco:
“Viagens tão óbvias
Loucuras tão sóbrias”
Cazuza
Segurei um pequeno frasco escrito: GAMA – revitalizador térmico anti-estático que dá brilho e suavidade.
Preferi a definição do Caio: GAMA – O Ovo apunhalado.
Tenho minha própria definição sobre frascos.
Toda a incompletude da mulher está em ser mulher.
Toda a incompletude do homem está em ser homem.
Os travestis são o mais perto que o ser humano chegou de ser humano.
Raphael Vidigal
Pintura: Detalhe do teto da Capela Sistina, A Criação do Homem, de Michelangelo.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Arrependimento:
terça-feira, 13 de abril de 2010
A mensagem:
Retirou com dificuldade o livro da estante.
Depois, tornou a colocá-lo em outro lugar.
-Sempre fui moralista em relação à burrice.
Vocês não entenderiam.
-sabe esse amor de irmão?
então! sempre me senti desconfortável.
“Não lembro de ninguém assim tão à flor de si mesmo: raiz, caule, folhas e frutos.” Caio Fernando Abreu
-Os conceitos de sanidade e loucura estão simplesmente baseados nas definições de maioria e minoria.
-se o mundo fosse feito só de maiorias não existiriam os gênios. é impressionante a discordância entre meu corpo e minha mente.
“as minhas órbitas perfuradas libertam estrelas marinhas e medusas e sereias e algas verdes que oscilam lentamente empurradas pelas ondas para a areia branca onde um dia meus pés deixaram lagos tão breves que não houve tempo da lua refletir-se neles.” Caio Fernando Abreu
-Eu preciso do meu líquido para dormir. Relaxar.
Esse líquido que penetra minhas narinas conduz.
Deus acorda.
-se isso não é paranóia então o que é meu deus?
-uma mágoa gostosa de se desprender.
-Cuspo os meus instintos.
-Tomo banho com minha saliva.
em que rua escura?
em que porta funda?
nunca saberei se ele recebeu a mensagem.
Raphael Vidigal
Pintura: Dream City, de Paul Klee.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Aquele dia:
"Virava pra lá e pra cá na cama.
Estava impaciente...
Até me sentei no escuro.
Pensei: Não era uma posição o que eu procurava.
Era você" Caio Fernando Abreu
Pode ser que não haja destino, mas há acontecimentos em nossa vida que são inevitáveis.
Estávamos ali sem muita certeza de até onde iríamos.
Eu tentava explicar o peso da palavra.
Você tentava entender minha dificuldade em dizer o que é tão fácil sentir.
Envoltos por uma cortina de fumaça, dividíamos o mundo entre bem e mal, com a estupidez sensata dos corretos tomávamos o cuidado desnecessário para não ultrapassar a barreira do brega.
Você era tudo aquilo que não se pode ser, eu era nada daquilo que deveria ser.
E naquele instante de profunda incompreensão de nossos gestos, me deu o beijo que não se pode dar.
E nos demos.
Raphael Vidigal
quarta-feira, 17 de março de 2010
Deus:
Deus criou o homem e a mulher para ficarem juntos.
O homem criou a Igreja.
A mulher criou os filhos.
Ambos a separação.
Deus criou o homem e a mulher para ficarem juntos.
Homem mulher.
Mulher homem.
Palavra de Deus.
Bíblia.
Deus é preconceituoso.
O seu Deus é preconceituoso.
Eu não aceito um Deus preconceituoso.
Ora, todos sabemos que Deus é preconceituoso.
Escolhe os mais fortes, os mais bonitos, mais inteligentes, mais espertos, exclui as minorias e perdoa ditaduras.
Mas não é por isso que eU tenho que ser igual a eLE.
À imagem é semelhança.
Raphael Vidigal
Pintura: Ascensão de Cristo, de Salvador Dalí.
terça-feira, 9 de março de 2010
Pai:
Era debaixo das cobertas que se sentia protegido.
(embora ás vezes precisasse se livrar delas)
Longe das luzes, longe dos beijos, longe de tudo.
Encoberto pelas trevas de um jardim escuro.
O medo o impediu de ver a lua.
Dormiu com os óculos manchados de ar.
O ar quente que se soltou das narinas e da boca daquele pai.
Raphael Vidigal
Pintura: A Noite Estrelada, de Van Gogh.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Peça:
O gosto de sanar a dor.
Um dia explode!
Que mundo absurdo! que me move.
Não consigo mais me apaixonar.
Eu perdi qualquer capacidade de me apaixonar.
"Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores.” Caio Fernando Abreu
Para mim, a tragédia é o ridículo do homem.
E a comédia, o sublime.
A comédia é uma pose.
Só é possível amar uma imagem.
Nosso amor é bonito por isso: a gente sabe ser fraco.
Escrevo em enigmas e ás vezes nem eu decifro.
Como essas duas sobrancelhas em exílio.
Essas duas sombras.
De uma face que transmite serenidade e dor.
Eu só quero uma pessoa sensível.
A gente não precisa entender tudo.
A sensação nítida de que Caio Fernando está aqui me dói.
Ver um filme me dói.
Ler um livro me dói.
É uma sensação tensa de desconforto e angústia...
à espera da consagração
eu mergulho de ponta...
Não é hora.
Essa pequena gota d’água que me molha abaixo dos ombros é responsável por minha desgraça.
o amor escorre............................................................................................................
tem que dá tempo tem que dá tempo tem que dá tempo tem que dá tempo tem que dá tempo tempo tempo tem que dá tempo tempo tempo...
nunca dá
tempo
Toda a vida experimentada num desejo.
Raphael Vidigal
Pintura: Rooms by the sea, de Edward Hopper.
terça-feira, 2 de março de 2010
Espera:
Parece que meu corpo acelerado treme imóvel, estático.
Estupro, paralisia, suicídio, beijo.
Sou eu seu beijo
Sou eu sua paralisia
Sou eu seu estupro
Sou eu suicídio
Beijo
Eu beijo a máquina do suicídio com a paralisia do estupro
A paralisia do estupro suicida o beijo
Beijo.
Ás vezes eu fico tão turbulento.
Raphael Vidigal
segunda-feira, 1 de março de 2010
Burra:
Eu nunca te achei burra porque você nunca gostou de mim.
O que mais dói é essa certeza, de que você nunca, em nenhum momento, gostou de mim.
As pessoas que eu acho burras, normalmente, são as que querem me impressionar.
As pessoas burras sempre querem impressionar com suas burrices.
Você nunca quis nada.
Talvez eu tenha gostado tanto de você por isso.
Talvez eu tenha demorado tanto a perceber sua burrice escondida por isso.
Talvez por isso eu seja um pouco rancoroso.
Doença não tem data.
Raphael Vidigal
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Gosto:
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Algo:
“Ponha uma margarida na sua fossa.” Caio Fernando Abreu
Tenho fidelidade para o amargo.
Não me importo de ter acabado.
Eu só queria...só queria ter marcado...
só queria que você não dissesse mais na minha cara que eu não signifiquei nada...
...só queria que aquilo que foi tão bom pra mim pra você não tivesse sido tão ruim.
Só queria que quando ela pensasse na vida dela lembrasse de mim como algo importante.
Lembrasse de mim como algo.
Raphael Vidigal
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Livro:
Apertou com força o livro contra o peito.
Ultimamente dormia tão nervoso...tinha tanto medo...
o livro o relaxava...ele esquecia o medo...toda aquela ansiedade que sufocava seus pulmões.
Tinha medo de ficar esquizofrênico e ouvir as vozes do seu livro na cabeça.
Aquele livro estava vivo...
Enquanto ele, estava morto.
Raphael Vidigal
Assinar:
Postagens (Atom)