sábado, 24 de julho de 2010

Retrato:


"E se o telefone tocar diga que eu morri que estou mortinho da silva, estirado no chão da sala com o coração na mão. Diga que retirei meu coração com a mão – ele estava doendo demais.” Caio Fernando Abreu

Talvez tenha acreditado tanto na força das palavras que me desiludi com o poder dos atos.
A imagem é um retrato preso na memória.
São 7 horas da manhã e os ossos tremem mais do que os ponteiros do relógio: eles parecem imóveis, aflitos como eu por não poder fazer algo porque o tempo já passou.
Não é para tudo isso.
Mas eu sou assim mesmo: quando me afundo é pra valer e sempre respiro rápido.
Minutos suficientes para de vez em quando dizer que a vida é bonita com uma confiança ingênua.
Esmagado pela objetividade das coisas que nos deixa no mesmo lugar ou nos leva para depois dele.

Tarde cinza no meu coração.

Eu tentei, eu juro que eu tentei não te olhar tanto.
Mas no final de tudo isso uma força oculta me toca e me ergue: estou cada vez mais forte, cada vez mais desacreditado da vida.
Talvez eu não mereça ser feliz, e tenha nascido para o sofrimento que tanto admiro.
Então eu sigo em frente

E piso sangrando sobre os cacos de ontem à noite.

Raphael Vidigal

Pintura: Mulher com um gato, de Renoir.

5 comentários:

Luiz disse...

Ficou muito bom vidigal!!
Parabens

Alessandra Rezende disse...

Lindooo!!!!!!

"Esmagado pela objetividade das coisas que nos deixa no mesmo lugar ou nos leva para depois dele"

"E piso sangrando sobre os cacos de ontem à noite".

"Talvez tenha acreditado tanto na força das palavras que me desiludi com o poder dos atos".

sao os trechos mais fortes q achei!
texto perfeito, meu bem!

Thayana disse...

Sem dúvida um dos melhores! Parabéns Vidi!

DIEGO SCORVO disse...

Muito bem PH.

É bom saber que boas pessoas estão lendo Caio Fernando Abreu.

Parabéns carqa !

Ricardo Takahashi disse...

ééé...esse cara do texto é uma mistura de torcedor do Galo e ouvinte de Creep do Radiohead...sofredor