E
me sentir mais cão.
Ao
te cravar as unhas.
Ao
me deitar no chão.
Ao
me postar de quatro.
Ao
te lamber as partes.
E
me sentir entregue.
E
possuir teus vãos.
Ao
te enfartar em vida.
Ao
te fartar do pão.
E
saciar o bicho.
E
saciar a fêmea.
E
saciar o macho.
E
saciar o cão.
Ao
me sentir mais gente.
Com
as veias aparentes.
E
o ar a pleno pulmão.
Desfigurar
teu ventre.
Abrir
os interstícios.
Sentir
como quem entra.
No
dentro feito cão.
Com
o osso pela boca.
E
a baba em pelo ensopa.
O
que é meu e nosso.
Pois
já não tem sultão.
E
te sentir inóspita.
E
me sentir teu hóspede.
E
oferecer a lança.
Que
rasga à contramão.
E
estar como quem caça.
O
rabo feito a cobra.
O
rabo feito o cão.
Comer
o teu chocalho.
Sugar
da pele o suco.
Conter
do lábio o sal.
Extraviar
teu barco.
Te
debruçar no cálcio.
Puxar-te
à embarcação.
E
me sentir mais homem.
Deitado
nu e casto.
Ao
ver-te nua e casta.
Após
a extrema unção.
Raphael Vidigal
Imagem: foto de Arthur Rimbaud.
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