Tenho o espírito acordado e doce,
pronto para uma primavera mansa.
Deitado sobre as ramagens da praça,
as folhas me enovelam numa valsa.
As fibras coagulam em seu compasso.
Os pés estão descalços e as mãos
alcançam algo inalcançável,
então suspira em
meio a um branco
cor de açúcar sem reparos.
Alargam-me os ombros e as cócegas
se espalham pelo corpo, começam
pela alma e enfim se encontram.
Contraem-se em espasmos.
Os músculos dos óvulos.
As convulsões do parto.
O mel que era das flores
espirra uma criança mole e fraca.
Agora tens um novo e fugaz refúgio:
O mundo e seus odores
e nada
deterá o seu naufrágio.
Raphael Vidigal
Pintura: obra de Picasso.
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