Ninguém
abriu a porta do meu sonho.
As
paredes brancas só refletiram de
Soslaio
o sol. As marcas dos pingos
Das
chuvas permaneceram e cravaram
Mofos
sobre o interior do quarto amplo
Desinfetado
e anestesiado com o pavor
Do
branco que é a ausência médica
E
cirúrgica.
Permanece
só feito órfão
o
sonho feito de vértebras
e
músculos
que
agora baba
e
mal
sustenta
o
peso da dentadura
na
boca feito quarto branco
Ao fundo o som de uma harpa lembra a promessa dos
anjos...
Ninguém abriu a porta do meu sonho. Só a chuva encosta o
seu
busto na maçaneta ainda intacta à espera do roçar do
outro, pois
o sol é apenas um reflexo na superfície branca e
inanimada como
Raphael Vidigal
Pintura: obra de Marc Chagall.
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