segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Filho de Peixes


Um peixe sonhou um sonho
Que fosse um sonho sem som
Porém a memória de peixe
O traiu e enganou
Logo antes que se lembrasse
As trombetas soaram
(mesmo debaixo d’água)
Soaram também as cornetas
Os tamborins e os pandeiros
Nessa estranha algazarra
Em que tudo se permitia
Peixe-espada chamava a duelo
O tubarão e a baleia
E de repente era um sonho
Cheio de voz e de cor
Pois mesmo o coro de pedras
Eram anjos em clamor
Com algas cobrindo as asas
Sobre as cabeças as conchas
Ostras e pérolas brincavam
Se armavam em brincos e harpas
Assim nesse mar convulso
Que fora um dia sereno
O sonho do peixe insone
Inaugurou um novo mundo!
Por isso se diz ainda
E foi a partir dessa história
Que filho de Peixes nada
Mesmo sem vento ao sabor...
E a constelação que ele canta
É a que o pai ensinou...

Raphael Vidigal 

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