segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O Gesso


Os meus sonhos
Me tornaram
O que sou
Tal no osso
Como na cara:
Olhos inchados
Boca calada
Peito em frangalhos.
Os meus sonhos
Me tornaram:
Via de dores
Costa de hangares
Bucho de voos
Pele marcada.
Os meus sonhos
Me tornaram
O que o gesso
Torna quando nasce
O que torna a madeira
Quando o escultor lhe
Fere a carne
E arranca do centro
Da forma anônima
E casta
O que ri
O que chora
O que canta
O que morre.
Os meus sonhos
Me tornaram
Pedaço de vida
Passagem transposta
Cor de sangue e suor: aroma de lágrima



Raphael Vidigal

Pintura: Obra de Toulouse-Lautrec.

Nenhum comentário: