As dores se
substituem
Como uma
planta devora outra
Como um
arbusto toma a calçada
A dor de
arrancar os dentes
Já não há
mais; porém a dor
Persiste, por
outros meios
Toma corredores
diversos
Secretas passagens
e me
Encontra,
estendido sobre
A calçada,
sobre o corredor
Coberto de
plantas, com arbustos
Por sobre o
peito, por sobre os dentes
Por entre
muros. Entre muradas.
A dor de
arrancar os dentes
Da minha
infância, já não há mais
Porém uma dor
mais lânguida
Que se
esgueirou, e difundiu-se
Em meu corpo
todo. Uma dor de amor,
Uma dor
solitária, uma dor de dente
Só que intratável.
É dor carnívora,
Embrionária;
caçou-me os ossos
Cortou-me as
asas, a dor de tudo
De estar na
vida, dor de gnomo,
Porém sem
fada. A dor de
Arrancar os
dentes, da minha
Infância já não
há mais.
A dor é
outra, a dor presente
É a que dói
mais. A dor de agora
Intermitente,
inalterável.
Raphael Vidigal
Pintura: obra de Jackson Pollock.
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