Pensei
ter dito: o sorriso arde em sais
A
carne,
Apodrece
e morre.
Pensei
ter dito: o abraço aperta os ais
As
roupas,
Desfiam
e mofam.
Pensei
ter dito: ouça o coração
A
moda passa.
Pensei
ter dito: o erro é permanente
A
vitória esgota.
Pensei
ter dito: dizendo entregas, vais
A
carapuça encobre.
Pensei
ter dito: sapatos e acessórios
E
corpo escultural
E
saber matemático
Para
ser amada?
A
essência basta.
Pensei
ter dito: independência é opinião
E
não um automóvel.
Pensei
ter dito: a política é necessária
E
a rebeldia e o sonho são exercícios saudáveis para escapar
Dos
moldes pré-fabricados
De
repetir o óbvio.
E
o carinho está acima de tudo.
Pensei
ter dito: escolha o que lhe importa
Não
professores ou faculdade
Vestibular
não a torna puta ou casta
Mas
a tua forma
Maleável,
é reinvenção diária.
Pensei
ter aberto um mundo de poemas, sons, imagens
A
tocar este coração e em algum momento
Aliviar
as dores,
E
a vida se sentir leve e suportável
Pensei
que eu tivesse dito, mas todas essas palavras calaram: porque o fato é mais
importante e a fantasia não vale nada.
Desculpa
os descaminhos, a escolha da palavra errada, o gesto mais duro, a força mais
áspera,
Do
coração de menino sem glória, febril e ingrato...
Raphael Vidigal
Pintura: "O Balanço", de Jean Honoré Fragonard.
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