quarta-feira, 28 de março de 2012

Hiena:


“Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.” Konstantinos Kaváfis


Deixo claro (ou escuro? ou apagado?) que estou indo para esculhambar
As cadeiras moles se aprumem, para a minha entrada triunfal

Ao ressoar o relógio
Tilintarei os meus ossos cheios de pinos

Pepinos descascarei
Cenouras ceroulas pisarei
Cebolas chorarei

Tal Qual Um Neruda Às Avessas
Das Bestas, Legumes E Frutos E Frutas
Rirei Como Uma Hiena
De Quatro Costados
Deitarei Para Cima
Exibindo Ao Deleite Dos Olhos
(Para Quem Quiser Tocá-los)
Meu Órgão
(Piando Piano Pilando)
Hermafrodita!

Soçobra o sobrado
Que esconde os telhados
Em meio a cobras de boutique
Lingerie cinémathèque
Trés belle

Raphael Vidigal

Pintura: “Jovem adormecida à mesa”, de Vermeer.

Um comentário:

Marco disse...

meio louca essa poesia

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