sábado, 31 de março de 2012

Pirâmide:


“Os homens constroem também de acordo com as leis da beleza.” Marx

Encardido
Encarquilhado
Ardido
Ilhado
Ido
Estamos
Amém
Ilhados

Maus presságios
Viagens erradas
Sombra sobre a calçada

Mensagens cifradas
Decodificadas
Sangra a encruzilhada
Ruínas, brejos
Desperdiçadas

Raphael Vidigal

Pintura: "Retrato de Adele Bloch-Bauer I", de Gustav Klimt. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Cerimônia:




“Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.”
Konstantinos Kaváfis

Quem come? Quem sabe?
Comeremos muito em breve
Saberemos, só releve
Se alguém leva o cadeado

Pois a chave do saber
Essa pertence, meu bom moço
Aos donos do jantar & almoço

Copos na mesa!
Preparem-se para o brinde
Garfos bastante afiados,
Obrigado.

Utilidades:

Mote: nome – função
Até se chegar ao IMPRESTÁVEL – LINDO!

Raphael Vidigal

Pintura: “Auto-retrato com cabelo cortado”, de Frida Kahlo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Hiena:


“Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.” Konstantinos Kaváfis


Deixo claro (ou escuro? ou apagado?) que estou indo para esculhambar
As cadeiras moles se aprumem, para a minha entrada triunfal

Ao ressoar o relógio
Tilintarei os meus ossos cheios de pinos

Pepinos descascarei
Cenouras ceroulas pisarei
Cebolas chorarei

Tal Qual Um Neruda Às Avessas
Das Bestas, Legumes E Frutos E Frutas
Rirei Como Uma Hiena
De Quatro Costados
Deitarei Para Cima
Exibindo Ao Deleite Dos Olhos
(Para Quem Quiser Tocá-los)
Meu Órgão
(Piando Piano Pilando)
Hermafrodita!

Soçobra o sobrado
Que esconde os telhados
Em meio a cobras de boutique
Lingerie cinémathèque
Trés belle

Raphael Vidigal

Pintura: “Jovem adormecida à mesa”, de Vermeer.

terça-feira, 27 de março de 2012

Vela:


“A palavra erguida
vigia
acima das fomes
o terreno ganho.” Ferreira Gullar


A memória é tão traiçoeira

Que rouba-nos o que já não nos pertence

Quando se apaga em vela

Deixando réstias ininteligíveis

esperanças novas
manilhas remexidas
lastro de poeira
na vida

Raphael Vidigal

Pintura: “Natureza-morta com maçãs e laranjas”, de Paul Cézanne.

domingo, 25 de março de 2012

Camões:


“Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino” Ferreira Gullar


Ode onde
Haja asa
Donde caça
Extravia
Esta havia
Ao natural
Sem bem formal
Por solidez e santificação
Do natural laço lascivo
Vendavais
Venda vias
Sons queixumes
Estrumes
Gumes
Truques trupes suicidas
Pálpebras palatáveis
Potes e potes e coices
Boicotes duendes queridos

Raphael Vidigal

Pintura: “A Água”, de Giuseppe Arcimboldo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Oceano:


uma
cápsula
azul-bonina
contém
um
frasco
verde-musgo
comete
um
estupro
dentro
do
buraco
do
ab-surdo

“Quando a gente se abre mais, o outro vê fundo. E o fundo é quase sempre escuro e assusta.” Caio Fernando Abreu

Raphael Vidigal

Pintura: “A Lamentação”, de Giotto di Bondone.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Uma pequena observação:


“Como é insaciável e abrasivo o vício de escrever.” Gabriel García Márquez

Me falta a calma dos Grandes Poetas.
E o orgulho dos Grandes Artistas.

Estoy más pra dublê
De escritor-paráfrase!

Tópicos para uma obra:

Reduzido: ao essencial

Conferindo: tema de cristal

Minha Missa
Luba
Cheia de
Idiossincrasias Alteradas

Raphael Vidigal

Pintura: “Christies”, de Egon Schiele.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Poema de uma palavra só:


Nota
Nota
Nota
Nota

Quebra-Cabeça Imaginário: Música Gíria Papel Valor Atenção

Incidentalmente: Tom Jobim.

“Era um rabisco e pulsava.” Carlos Drummond de Andrade

Raphael Vidigal

Pintura: “Still Life with Port Seton vase”, de John Bellany.

sábado, 17 de março de 2012

Desaforro:


“Mas eu só queria é ficar à parte
Sorrindo, distante, de fora, no escuro
Minha lucidez nem me trouxe o futuro” Sérgio Sampaio


O amor é um desaforo
Desafogo
Fogo
Foro
Forro
Desaforro.

À forra com teus bulhões!
Afora teus grilhões
Lá fora semente e sabor

Raphael Vidigal

Pintura: “Descanso na fuga para o Egito”, de Caravaggio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Vontades:


“Mal poeta enamorado de la luna,
no tuvo más fortuna que el espanto;
y fue suficiente pues como no era un santo
sabía que la vida es riesgo o abstinencia,
que toda gran ambición es gran demencia
y que el más sordido horror tiene su encanto.” Reinaldo Arenas


Vontade de não ligar pra ninguém,
De sumir por um tempo
Olho de dentro

Se você está com medo do
Buraco Do Enterro
Venha

Despeço
Despedaços
De
Papel
Crepôn

Sufocam-me os asnos
Do saber marrom

Raphael Vidigal

Gravura: “De que mal morira?”, de Goya.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Lunetas:


“E não comportam interpretações.” Guilherme Vaz

Como Em Notas De Cristal
Crisântemos Verdes
Hão De Insurgir
Luz Lunar


Pintura: “Calla Lilies with Red Anemone”, de Georgia O’Keeffe.

Raphael Vidigal

segunda-feira, 12 de março de 2012

Maneira Mais Bonita:


“E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.” Fernando Pessoa


Essa era a
Maneira Mais Bonita
Numa era doida
De eras miudinhas
Tantas todas tolas
Eram ervas daninhas

Pois por pó em si
A ama poesia
Só sabia vir
Em negra agonia
Deu-se o ar-mô-ni-a

Raphael Vidigal

Pintura: “A Parábola do Rico Insensato”, de Rembrandt.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Canção:


“Essas semanas finais, entre o fim do verão e o começo do outono, se embaçam na memória, talvez porque nossa compreensão mútua tivesse atingido aquela doce profundidade em que duas pessoas se comunicam mais em silêncio do que com palavras” Truman Capote

Vou me desfazendo
Aos pedaços
Puro aço
Metal de anis
Anil de outubro
Sol soturno
Minuetos de Chopin
Onde perdi?
A lua cheia se esgueira
Qual uma serpente
Abocanha a cobra
Dentro o ovo
De Tarsila
Sois ovo ou cobra
Sombras abraçam
E lentamente
Envolvem as mãos
Em teu pescoço
És puro osso
É o fim do poço
Ainda sou moço
Foi o grito de agonia
Soterrador


Raphael Vidigal

Pintura: “Danae”, de Klimt.

terça-feira, 6 de março de 2012

sândalo:


“No seu quarto escuro
Talvez eu seja uma luz acesa” Arnaldo Antunes


sou triste
o que mais posso revelar?
que a casca me aprisionou
e é difícil sair dela
pois é preciso indispensável macular
o próprio coração.

Raphael Vidigal

Pintura: “Par de mulheres (mulheres abraçadas)”, de Schiele.