segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

epiderme



coisas que desapareceram
permanecem no meu peito –
não há preparação para a
morte,
cada
vestígio
de vida...
escorrega por um anzol e
me vem como isca acordar
no meio da noite –
riso de vergonha,
rubor de medo,
palpitações de um músculo
não pertencem a quem se foi
mas, ainda assim, coisas que
desapareceram permanecem
no meu peito
como uma ferrugem
o tártaro no dente
sobre a parede – branca –
o mofado, de antes de existirmos
você, eu, o outro e todos os antepassados.



Raphael Vidigal

Imagem: obra de Jackson Pollock.

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