segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Romance



Na bacia das almas
disseram adeus.
Cada um para
um lado. E uma folha erma,
no chão de outono,
representava a penúria
daquele casal.
Idas e vindas.
Encontros e despedidas.
Até que um dia o milagre aconteceu.
O rompimento manteve não intacto,
mas conservado aquele amor.
Naquele dia recolheu um passarinho morto,
afogado na piscina, circundado pelas
folhas ermas das águas de outono.
As perninhas estavam rijas e esticadas.
O corpinho molhado de penas jazia mole.
O final tinha, enfim, se consumado.
Na solidão amou aquele passarinho defunto
Cheio da esperança que traz ao mundo uma criança
recém-nascida. Pouco antes de partir, emitiu um
último assovio de bicho
que continuou no ar,
em eco...
ressoando...
e, com duas piruetas
e uma cambalhota,
não parava de demonstrar:
Só o que acaba permanece.
Só o que acaba, permanece.
Só o que acaba...


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Renoir.

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