quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Passado



As coisas vão se apagando
da nossa memória.
Granuladamente.
Que se tornam coisas,
sem nome, impessoais.
E transparentes.
Um dia, então, retorna
com espanto
o olhar que se perdera
entre as paredes.
Granuladamente
caem sonhos de papel
na nossa frente...
Um dia prometemos
um para o outro
ser a eternidade nossa
e sempre...
ignorando o tempo
com a coragem
que há no peito
dos adolescentes...
e nada deteria
esse clamor
espada, canivete
ou tungstênio...
a chuva na janela
desenhava, com
pingos o que em
nós se rebulia
(fora e dentro)
mas antes ou depois e ainda agora...
eu vejo essa janela à minha frente...
porém o vidro foi
tornado fosco,
e os olhos granulados.
Transparentes.




Raphael Vidigal

Pintura: obra de Goya.

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