domingo, 21 de janeiro de 2018

Baudelaire


quando desce
a noite alta
os eflúvios do amor
se reúnem
como poeira no assoalho

não há uma morte exata
apenas a lenta cicatriz
informe e cálida
no meu mundo
eu pego todo sonho

e transformo em retrato
a memória de cada porta
da poeira ao pé do assoalho
quando desce a noite alta
me enforca em eflúvio de vômito



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Suzanne Valadon.

Dogma


A única e mortal função da arte é propor a liberdade ou, ao menos, alguma libertação. A autoridade e o poder são o refúgio dos que não têm talento.
Arte não compreende autoridade


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Maria Helena Vieira da Silva.

Diálogo para uma charge


– O mundo anda muito intolerante...


– Principalmente à lactose.



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Helen Frankenthaler. 

palavra


Tudo que existe
é invenção


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Angelika Kauffmann.

Hinduísta


o teu sorriso tem um mistério
aberto entre duas pontas
numa surge o ar mais sério
noutra o deboche de uma criança
tuas asas adornam o peito
como se houvesse salvação na força 
que o teu sorriso
como é do mistério
já vai sem medo
bem adiante
donde da perna surge o deus Ganesha
para dizer que tudo é flutuante
o teu sorriso
e o teu mistério
são duas pontas
entre o reto – e o plano
pois não existe céu
sem oceano


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Frida Kahlo. 

como se fosse o que já é


Contra fatos
só há sentimentos


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Dorothea Tanning.