A
plenitude dura o tempo do consolo.
Consolamo-nos
porque a vida passa.
Consolamo-nos
porque a morte vem
Para
todos
E
não escolhe alguns
Apenas
Consolamo-nos
porque existe a fome
O
medo se impõe
E
sorrateiro
Desguia
por debaixo
Dos
narizes.
Consolamo-nos
porque existe a sede.
Consolamo-nos
porque existe o tempo
Do
relógio
Na
parede
Uma
aranha
Tece
a teia
Sem
o medo
De
amanhã
Pois
haverá um dia
Um
sol e o café quente
Ou
então terá a terra nos colhido as maçãs
Sobre
um rosto ainda imberbe.
Consolamo-nos
porque apesar da tosse
E
os ossos do esqueleto em nosso cerne
Só
vemos os sinais de uma pregressa dor
Serena.
Consola-te
um balde de água fria e um busto cheio:
– por onde jorra o leite ainda fresco –
ainda
pleno
Raphael Vidigal
Pintura: obra de Sofonisba Anguissola.
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