sexta-feira, 3 de março de 2017

Apartamento


Quantas vezes nos despedimos?
Porém, sem ter mesmo para aonde ir regressamos ao apartamento.
As mãos trêmulas, a garganta vazia, a sombra mocha junto aos cálculos de uma dívida irrisória.
Paredes brancas iguais a saudades,
Ígneas, deslumbrantes.
E nós ali, de bruços,
sem um, sem o outro.
Apenas contando as despedidas,
Recontando as feridas,
Rejulgando os gestos.
Cada palavra, cada riso,
e tantos, tantos cacos de vidro espalhados...
poderia ser de outra forma?
Não responde o apartamento branco,
o apelo brando,
a mão sem saudade,
calosa,
apenas suando...
certa de que o pranto virá em seu socorro.
Nada vem, só no eixo permanece a despedida
Cética e rumorosa
por entre os poros das paredes brancas...


Raphael Vidigal

Gravura: Obra de Livio Abramo. 

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