Pra quem achou que eu nunca mais ia
sofrer por amor
Aí estou eu de novo, ajoelhado nos
altares da desgraça.
Pra quem achou que eu era um novo
homem, regenerado
Aí estou eu, chorando feito menino, de
barriga pra cima,
Como quem pirraça os criadores dos
céus, como quem não
Aceita ser aquele para quem o
sofrimento deve tornar
Mais sensível. Aí estou eu de novo,
baixo astral, agressivo.
Aí estou. Pra quem achou que eu nunca
mais fosse sofrer
Por amor. Aí estou eu. Aquele velho
poeta vadio.
Revirando lixo, catando vidros,
ajoelhado no altar do desespero.
Ajoelhado, como quem não reverencia,
mas xinga, rei da
Discórdia, da balbúrdia, da
hipocrisia. Rei da blasfêmia
Como um mendigo. Aí estou eu. Aos
pedaços, insólito,
Aquele velho poeta vadio. Sofrendo. E
o amor feito pó
Raphael Vidigal
Pintura: obra de Goya.
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