quarta-feira, 1 de abril de 2015

Idiossincrasias salutares


Entre o desleixo e o despojamento
            Há uma pena de pavão
            E uma conta na caderneta
                                               (de poupança)

Um ouriço de costas largas
                                   E um espeto na churrasqueira
            (de plástico)

                        Um enredo de Castro Alves
                                   E uma cena de Gerald Thomas
(de toalha de banho)

            Entre Francesco
                                   e o franciscano
                                               tem uma moeda de cabeça para baixo
                                                                                                                  
quicando...

Idiossincrasias salutares/Fim do primeiro ato



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Artemisia Gentileschi. 

Mafalda


– A vida é fogo na jaca!
– O mundo é panela de pressão!


Mas eu só queria uma colher de chá...


Raphael Vidigal

Desenho: 'Mafalda', de Quino. 

De frente pro crime



Ao viajar na maionese
Por cima da carne seca
Surfava na crista da onda.



Raphael Vidigal

Imagem: obra de Vermeer. 

Cinto



Todo mundo já foi bento.
Até Dalila um dia foi casta.
Mas no final o que sobra, o resto,
São lamentos e uma cachaça.



Raphael Vidigal

Pintura: obra de Rembrandt. 

Comércio



AÇAÍ         *          SORVETES              *      CAFETINA
                                         &
                           OUTRAS DELÍCIAS




Raphael Vidigal

Imagem: obra de Hélio Oiticica. 

Descartes de Freud



Penso,
            Logo,
                        Resisto.



Raphael Vidigal

Pintura: obra de José Roberto Aguilar. 

Epitáfio



Hei de ser
Esse poeta tolo
E bem cuidado.
A tolice é por minha conta;
(e risco, diga-se de passagem).

E o cuidado dos familiares.

Raphael Vidigal

Pintura: obra de Van Gogh. 

Fábula



5 anos são uma vida;
Disse uma formiga para uma cigarra.
5 anos não representam nada;
Diz a tartaruga que se esforça para coçar o casco.
5 anos passam numa fímbria;
Invoca o rinoceronte que se agarra ao mato.
5 anos podem servir de escada.
Diz a girafa ao tentar alcançar a fruta mais madura do último galho.
– Girafa não come fruta!
Mas isso é uma fábula.
Por isso o amor toma a palavra:
– 5 anos é irrelevante na minha linguagem.
Num segundo o homem se apaixona.
Num segundo ouço a tua risada,
O teu bater de asas;
Colho o coração no campo.
(A alma é de cigana)
E deixo morangos na beira da estrada.
– Quem fala é o poeta romântico;
E mais do que nunca apaixonado.
– Esse poema tem dono!
Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhiu!

Guarda bem lá no fundo desses 5 anos.

Raphael Vidigal

Pintura: obra de Manet. 

As divindades da virtude



A poesia
Ágrafa
Fácil
            Estimulada
                                   Ela se masturba.
A poesia
                        Funda
Tempestuosa
                                   Depauperada
                                   Ela coagula.
                                  
                                   A poesia
                                   Poste

                                   Puta                           para quem paga: ela mostra a bunda.

Raphael Vidigal

Pintura: obra de Klimt. 

Campos



Guga
Um velho                              gago
                                               Gagá
                                                           Gagueja
                                                                                  Cacofonias
Caco
                                               Um jovem
Coco
            Cocar
                        Coteja
                                   Cocas
                                                           & guaraná


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Paul Klee. 

Sub Cecília Meireles



Todos nós tentamos uma felicidade maior
Do que se tem.
Sempre, a todo momento,
E ela não vem.


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Monet. 

Performance II



É divagar
                 É divagar
                                    É divagar

                                                    É de vagar de vagar inho

Raphael Vidigal

Imagem: foto de Salvador Dalí.  

Performance


Quem desdenha, quer comprar.
Cão que ladra, não morde.

Em terra de cego, quem tem olho é rei.


Raphael Vidigal

Imagem: foto de Salvador Dalí. 

Plagiando Guimarães Rosa


Insônia é uma questão de prefixo.


Raphael Vidigal

Imagem: Mesa de Salvador Dalí. 

biografia


corpo de bailarino
e cabeça de jardineiro
só poderia dar num janeiro.

ou, na melhor hipótese: num girino.

Raphael Vidigal

Escultura: obra de Rodin. 

Matisse


estou fanho
de epifanias
no meu sapato
tem uma estrela-guia
(pois a pedra já não me aporrinha)
ando farto
de andorinhas.


Raphael Vidigal

Imagem: colagem de Matisse. 

carinho


em terra de
biguás
e caraminguás
não me venha
com caraminholas!
ou eu mando
para as cucuais.
você
puxa minha orelha
e  eu
pego no seu pé;

meu pirão primeiro.


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Renoir. 

Linguajar


A capacidade analítica concreta
E a capacidade metafórica sensorial
São duas línguas distintas.
A primeira é um órgão muscular relacionado ao sentido do paladar, à deglutição dos alimentos, e à formação dos fonemas da fala. Localizada na parte ventral da boca, isso na maior parte dos animais vertebrados, o tamanho médio em indivíduos da espécie humana é de, aproximadamente, 5 cm.
Mas pode variar no segundo exemplo:
Língua de sogra tem quase 2 metros.
Língua pra lamber sabão chega a pouco menos de 0,00000000000000032 cm.
Língua de índio só vê quem tem olho verde puxado no azeite de anta.

E língua de tamanduá é ótima pra comer formiga.


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Miró. 

Nunca vi rastro de cobra nem couro de Lobisomem


Enfrentou o argumento com a capacidade analítica concreta e provou que era possível um elefante sair voando, mas em outro modelo que não o da lógica da máquina do cérebro humano. Deixando claro que máquinas não têm emoções. O pintassilgo deu um chute naquilo tudo do alto do gorro do Papai Noel e a criança que estava no vaso cagando soltou um peido tão colorido que ali nasceu a capacidade metafórica sensorial. E o elefante pôs os óculos no cu do mundo, com piedades de ser leopardo e grilos de ser humano. PRUUUUUM!!!!!


Raphael Vidigal

Pintura: obra de Picasso. 

Fabulação


As coisas que não existem
Têm cor de fruta.
Mas se tentares compreender
Isto,
Por essa razão da qual és
súdito,
permanecerá (o umbigo da
abelha é uma bexiga?)
De bruços.



Raphael Vidigal

Colagem: "Jazz", de Matisse. 

Moral da História Católica no Brasil



Rir é falta de respeito.
Já com o choro ninguém se ofende.

Raphael Vidigal

Imagem: Chaplin no filme "Tempos Modernos". 

Naquele dia


Começou a falar em palavras graves: respeito, postura, ordem.
E eu percebi que o nosso amor tinha virado compromisso.


Raphael Vidigal

Imagem: Charlie Chaplin.