Há, num universo imenso de possibilidades,
Algum misterioso enredo a permitir
O encontro
Entre duas específicas,
E então desesperançadas,
Almas, se preferir.
Quando não mais almejam nada da vida,
Talvez, seja o segredo, tão banal e equivocado
Que o ignoramos
Tanto quanto os garotos de periferia
A passarem cerol na linha do papagaio.
Mas ele há de cortar pescoços.
Ah o amor sempre corta pescoços.
Sejam os meus ou os nossos.
Ou de ambos.
Nesse caso, andamos sem cabeça de um lado a outro,
E o coração ficou como que tremendo, solto, no ar, sem dono.
O amor é, sem dúvida, o papagaio.
(agora mudo)
E o cerol, o orgulho.
E não há mortes e noticiários e repreensão dos pais e cacetada da polícia que impeçam esses meninos insolentes a desistirem de passar cerol na linha, e a deixarem fluir por aí apenas por esse prazer, sem cortar as nuvens ou o sol e teu brilho intenso...
A pressa dos miseráveis...
Raphael Vidigal
Foto: "Pipa Papagaio", autor não identificado.