
“Nossa maior tragédia é não saber
o que fazer com a vida.” José Saramago
O nosso amor começou com Charles Chaplin.
Depois de um tempo apareceu Oscar Wilde, e logo em seguida, Caio Fernando Abreu.
E nós ali, tateando no escuro, tentando ver o que era ficção e o que era eu você nós dois.
Nunca tivemos certeza, mas acho que por algum momento chegamos a sentir nós dois naquele dia.
Não foi quando sua perna tocou a minha nem quando eu ri nervosamente tentando disfarçar o meu estado já alterado no fim da noite.
Talvez tenha sido na hora de ir embora.
De nos despedirmos.
E aquela mão ficou no céu entre nós dois tentando se prender a correntes invisíveis.
Correntes que depois nos aprisionariam e nos jogariam nisso que chamamos fim, acontecimento ou separação.
Ou mesma parte da vida. Prosseguimento da vida, eu diria.
A sua vida seguiu e eu nunca mais tive notícias.
Mas ainda guardo nesse céu invisível que há entre nós um pedaço de corrente que nos prendeu e infelizmente hoje só me resta liberdade.
Raphael Vidigal
Pintura: Lago com Nenúfares, de Monet.