quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Gosto:


Antes eu gostava de todo mundo.
Gostava de qualquer um.
Depois eu aprendi a gostar.
A selecionar meus gostos.
Aí então eu amei.
E desaprendi a gostar.
E aprendi a desgostar.

Hoje eu não amo ninguém.

Raphael Vidigal

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Algo:


“Ponha uma margarida na sua fossa.” Caio Fernando Abreu

Tenho fidelidade para o amargo.
Não me importo de ter acabado.
Eu só queria...só queria ter marcado...
só queria que você não dissesse mais na minha cara que eu não signifiquei nada...
...só queria que aquilo que foi tão bom pra mim pra você não tivesse sido tão ruim.

Só queria que quando ela pensasse na vida dela lembrasse de mim como algo importante.
Lembrasse de mim como algo.

Raphael Vidigal

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Livro:


Apertou com força o livro contra o peito.
Ultimamente dormia tão nervoso...tinha tanto medo...
o livro o relaxava...ele esquecia o medo...toda aquela ansiedade que sufocava seus pulmões.
Tinha medo de ficar esquizofrênico e ouvir as vozes do seu livro na cabeça.
Aquele livro estava vivo...
Enquanto ele, estava morto.

Raphael Vidigal

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Chuveiro:


Tinha os pés lambidos e gostava de dormir em casa.
Quando leu Caio Fernando Abreu, foi amor à primeira lida.
Afora isso, não sabia nada.
Sabia que estava num desses momentos...
...num desses momentos...
era tão bom...
chorar baixinho no chuveiro sem ninguém olhando...
chorar baixinho no chuveiro Dolores Duran sem ninguém olhando...
cantar baixinho...sem ninguém...
...olhando...eu a esqueci por um tempo.

Nesses momentos que podemos ser nós mesmos.

Raphael Vidigal

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Banheiro:


Não consigo me concentrar em um só dia.
Lembro-me de ter sido à noite.
Enrolei-o em um papel higiênico e o joguei no lixo.
Antes disso, ainda foi possível sentir em meus dedos seu corpo à espera da morte.
Ele nem se mexeu.
Some e reaparece.
O que eu busco é aquela certeza de se saber melhor que eu.
Pacto de sangue.
Sempre clima.

Eu não quero voltar nunca mais naquele banheiro.

Raphael Vidigal